quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Dias 4,5,6,7,8 / Days 4,5,6,7,8










Desculpem mas a correria destes dias em viagem não me deixou muita margem para actualizações. Vou tentar resumir tudo o que aconteceu nestes dias de viagem.
No dia 4 da minha viagem estive em Miyajima, que é um ilha à qual se pode aceder através de um ferry em Hiroshima. Esta ilha encantada é protegida por uma grande Torii (entrada de santuário) vermelha no meio da água, tornando-a toda a ela sagrada. Vi tantos veados, que correm por lá livremente. Subi ao Monte Misen de teleférico, e desci-o a pé. Foi um dia cansativo e repleto de aventuras.


Depois destas aventuras na zona de Kansai, fui para Kyuushuu passar o fim de semana, que é das ilhas principais a que está mais a Sul e Oeste. Fiquei na casa da minha amiga Mk, com os pais dela e o irmão, e ainda duas outras meninas de Tóquio, a MM e a JF. Todas 4 nos encontrámos em Portugal há quatro anos atrás quando elas eram estudantes na Universidade de Aveiro. Foi maravilhoso a tantos níveis. Oita, a cidade gémea de Aveiro, foi onde fiquei, mais propriamente em Usuki. Encontrei o meu sonho Japonês naquelas montanhas cobertas de verde, com templos escondidos sob densas camadas de bambu. Onde as casas são todas de séculos idos, ou parecem ser. Um sítio onde passear na rua é reconhecer e ser reconhecido por quase todos, encontrando velhos amigos a cada esquina. Mas também um sítio moderno, com bares e lojas cheias de design, e de estilo. Visitei uma outra pequena cidade Yufuin, que é o paraíso para os Japoneses. Uma espécie de cidade museu, com onsen, árvores e flores por todo o lado. Tomei chá numa das mais bonitas casas de chá que alguma vez vi, e conheci um pintora de postais que estudou pintura em França. Passei momentos maravilhosos no fim de semana, e deixei parte do meu coração em Oita. Tenho de lá voltar.
E bem, na segunda-feira foi o regresso a Kansai, e a Quioto, onde já tinha estado brevemente. Quioto é cheia de tradição, e polvilhada de templos importantes, por isso é frustrante visitar. Os transportes, uma rede de metro com duas linhas, e os muitos autocarros que cobrem a cidade não permitem uma visita rápida, perdendo-se muito tempo nas deslocações. E os muitos pontos de interesse fazem com que a visita pareça nunca ir ter fim, por mais longo seja o tempo que temos. Mas ainda assim, vi templos lindíssimos, alguns perdidos na montanha, outros no mar da cidade moderna. Uns apinhados de gente, e outros quase desertos (esses claro que foram os melhores! Destaque para Daitokuji, um complexo com 23 sub templos, onde visitei dois!). Muitas aventuras, muito cansaço, alguma frustração, alguma tristeza por estar tudo a chegar ao fim. Enfim, estou num turbilhão de emoções diferentes, e amanhã já de volta a Tóquio para mais um turbilhão antes do regresso à Pátria. Às vezes queria adormecer e acordar já de volta, para não ter de passar por tudo o que implica preparar para ir, mas isso não é possível, por isso...
Agora vou sair do hostel e partir à visita e à descoberta de Nara, a última das quatro capitais que visito. As fotos são escassas, mas espero que gostem.


I am sorry but the journey has been keeping me running so that updating here has been a challenge. I am now going to sum up these past days.
On day 4 of my journey I went to Miyajima, by taking a ferry from Hiroshima to the island. This enchanted island is protected by a big red Torii (a shrine’s door), right in the water, which makes the whole island sacred. I saw many deer that run loose there. I went all the way to the top of Mount Misen, by taking the ropeway, but came down on foot. It was such a tiresome day filled with adventures.
After these adventures I left the Kansai area and went to the most Southern and Western of the 4 main islands of Japan, Kyuushu. I stayed with a friend Mk, her parents and brother, and also two other girls from Tokyo. The four of us girls met 4 years ago in Portugal while they studied as exchange students in Aveiro University. It was wonderful, just perfect really. I stayed in Oita, the twin city of Aveiro, particularly in Usuki. I found my Japanese dream in that place, in the mountains covered in green, with its temples hidden behind thick bamboo forests. A place where where all the houses are centuries old, or look that way. A place where to walk in the streets means to recognize and be recognized by most everyone, and old friends appear out of every corner.
But a place that is also modern, with bars and shops with great modern design and style. I visited a small museum like city called Yufuin, which is like a paradise for Japanese people. In there, there are trees and flowers and onsen everywhere. We had tea together in one of the most beautiful tea houses I have ever seen, and I met a painter who paints postcards and that has studied in France. It was a weekend filled with wonderful moments, and left a piece of my heart in Oita. I have to go back there.
Well, on Monday I returned to Kansai, and to Kyoto, where I had already stayed briefly. Kyoto, is a traditional city filled with important temples and for that is a frustrating place to visit. The transportation used by the tourists, which consists of a subway with only two lines and a big network of buses, make you spend a lot of time when going from one point to the next. The multitude of interesting sights also contributes to a seemingly endless journey, no matter how long you are able to spend in the city. But even though, I saw amazing temples, some of which lost in the mountains, other lost in a sea of houses in the modern city. Some overly crowded, and other deserted (which were by far the better ones, particularly Daitokuji, which consists of 23 sub temples, of which I visited 2). How to describe my journey: many adventures, great tiresomeness, some frustration, and some sorrow because it will all end so soon. In the end I am spinning through a confused mixture of feelings, and tomorrow I will be back in Tokyo to face one other mixture of feelings before returning to the Motherland. Sometimes I just wish I could fall asleep in Japan and wake up in Portugal, so that I didn’t have to deal with any of the things that need to be dealt with before returning. But that is impossible, so…
I am now going to leave the hostel and go on a trip to discover Nara, the last of the four capitals that I am visiting. Although few, I hope you like the pictures.





Dia 3 Hiroshima / Day 3 Hiroshima

Hiroshima:


Hiroshima, uma cidade marcada por um acontecimento trágico às 8.15 minutos do dia 6 de Agosto de 1945! No terceiro dia de viagem, 3 de Setembro de 2009, visitei esta cidade histórica, e aprendi tantas coisas.
Hiroshima é uma cidade mais pequena do que as que já visitei no Japão e tem um clima pacato de vida calma, com os seus rios por toda a cidade o encanto dos eléctricos que cortam as ruas. O meu 3º dia de viagem, anteontem, foi todo passado a visitar Hiroshima, e a aprender História a sério! A manhã foi consagrada ao sítio da Bomba Atómica. Lá vi a Cúpula da Bomba Atómica, as ruínas de um dos únicos edifícios que resistiu, junto ao qual está o Parque da Paz, com todos os seus monumentos em memória das vítimas, como o Cenotáfio, e a favor da Paz, como o Monumento da Paz das Crianças, e finalmente o Museu da Bomba.


Demorei mais de duas horas dentro do Museu, e a carga psicológica e emocional lá dentro são tão fortes que saí de lá com o coração despeçada, os olhos cheios de lágrimas e a cabeça a doer. Mas aprendi muito, muito mais do que teria aprendido a ler em livros. É chocante, é marcante, é devastadoramente presente, e realista, mas é necessário ver, ouvir, sentir e imaginar como terá sido no fatídico dia... Estava tão de rastos quando saí que nem sabia o que deveria ir ver a seguir, por isso segui os conselhos dos guias de viagem, que aconselham depois de sair de lá, ir descontrair para o Castelo (reconstrução do original, porque o primeiro foi varrido pela Bomba) e do Jardim Shukkeien (mais uma vez, reconstrução do original, porque o primeiro foi varrido pela Bomba). Visitei ambos e tenho lindas fotos para mostrar.

Hiroshima, is a city scarred by a tragic event that devastated the city at exactly 8.15 a.m., August 6th, 1945! On September 3rd, 2009, the third day of my trip, I visited this historical city and learnt many things.
Hiroshima is one of the smallest cities I ever visited in Japan, and it has a calming and relaxing feeling of a small city, soothed by the gentle flows of its many rivers, and the picturesque street cars that move along the streets. My third day of travelling was entirely dedicated to visiting this city and to learning the real History, as it is portrayed on the spot. The morning was spent in Atomic Bomb sight. In that area I saw the Atomic Bomb Dome, the ruins of one of the few buildings that resisted the devastation of the Bomb. Across a small river from the dome is the Peace Memorial Park, with its many monuments in memory of the victims, like the cenotaph, and in favor of peace, like the Children’s Monument for Peace. After crossing the park there is the Atomic Bomb Museum. It took me more than two hours to visit the museum, and it was necessary to struggle with intense emotions while visiting it. By the time I left there, my heart was in pieces, my eyes covered in tears, and my head was throbbing. However, I’ve learnt a great deal of things, more than I would in books alone. It is shocking, impressive, and devastatingly real, too real, but in the end, it is necessary for humanity to see, hear, feel and imagine what it must have been like on that day…
I was so down when I got out of the museum that I lost track of what I was supposed to visit next, but after a few moments, I pulled myself together, and took the advices of the travelling guides, that say that the Castle (a reconstruction of the original one since that one was swept away by the Bomb) and the Shukkeien Garden, aka shrunken garden (again, a reconstruction of the original one since that one was swept away by the Bomb) were good places to visit. I went to both and have lovely pictures to show you, I hope you like it.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Dia 2: Osaka / Day 2: Osaka

Que viagem esta, tenho corrido de autocarro nocturno em pensão de juventude, a visitar tudo o que posso em cada paragem, e isto não mata, mas cansa a sério!
O meu segundo dia foi passado ainda em Osaka, onde dediquei a manhã para o Castelo de Osaka (mas que valia bem a pena ter tido um dia inteiro só para ele). O Castelo é enorme, e ao longo dos 10 pisos tem sempre exposições, demora muito a ver, mas vale bem a pena. Eles recomendam começar do topo, apreciar as vistas (que são fenomenais) e vir descendo. Eu segui o conselho e não me arrependi.
A tarde essa foi passada numa exploração da história de Osaka desde os primórdios no Museu de História de Osaka, e depois disso num lindo parque fora do centro da cidade, onde foi realizada a Expo 90! À noitinha, e a precisar de fazer horas para o autocarro nocturno, ainda fui ao Sky Building de Umeda, ver os “Jardins Flutuantes”, como lhe chamam, e que é um observatório da cidade com 179 m de altura. Foi interessante, e as vistas dos rios de Osaka a juntarem-se ao mar foram simplesmente arrebatadoras. Depois jantei novamente em Namba, na Dotombori, e fiquei à beira-rio a ler e a apreciar a multidão de jovens que lá se encontrava a conversar, a beber, etc.
Entrei no autocarro, e parti para Hiroshima, mais uma noite na estrada! Espero que gostem das fotos.

Boy, what a trip I am into! I have been jumping around from night bus to hostel, and then to visit everything I possibly can in each stop. Ok, it doesn’t kill you but it sure is tiresome!
My second day was still in Osaka. The morning was fully dedicated to Osaka Castle (but a whole day would still allow to see many other things in there). The Castle is huge, and throughout each of the 10 floors there are exhibits, so seeing everything takes a long time, but is definitely worth it. It is recommended that you start from the top and see the marvelous panoramic views from there (that are simply breathtaking) and then coming down. I followed the recommendation and couldn’t be happier about it!
In the afternoon I went on an exploring trip to discover the mysteries of the city of Osaka since its beginning inside the Osaka Museum of History. After that I went to a lovely park on the outskirts of the city, built especially for the Expo 90! (Portugal held Expo 98!!!). At night fall I still had some time before the night bus, and went to Umeda Sky Building, to the “Floating Gardens”, which in fact are a simple circular observatory, 179 m high. It was so interesting, to see the rivers joining the sea from up there was simply an amazing experience. I went back to Namba’s Dotombori to have dinner, just like the day before, and then I sat next to the river reading and observing all the young people around me, chatting and drinking together.
I got on the bus and left for one more night on the road, destination: Hiroshima! I hope you like the pics!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Osaka dia 1 / Osaka day 1




Ontem pelas 22.50 deixei Tóquio e embarquei numa viagem de despedida do Japão. Nos próximos 9 dias, para além do dia de hoje vou passear pelas regiões de Kansai (Osaka, Hiroshima, Miyajima, Kyoto e Nara) e ainda Kyuushu (Oita). Vai ser sempre a andar, e a ver o mais possível deste Japão que ainda não conheço muito bem, e por isso mesmo vou tentar dar breves notícias para vos manter actualizados. No final desta viagem vou regressar a Tóquio para preparar o meu regresso.
Hoje foi o primeiro dia em Osaka, e foi mesmo cansativo! Visitei um parque chamado Tennoji, um templo chamado Shitennoji, outro parque numa ilha chamado Nakanoshima, ainda fui até à zona portuária onde vi o Aquário (se bem que não o visitei) e a Roda Gigante do complexo, e fui até à concorrida zona de Namba, onde vi a America mura, uma zona mais americanizada, e a Dotombori, marcada pelos restaurantes por todo o lado. Deixo algumas fotografias. Espero que gostem.











Yesterday, at 10.50 pm, I left Tokyo to embark on my “farewell Japan” trip. Besides today, the next 9 days will be spent travelling through Kansai (Osaka, Hiroshima, Miyajima, Kyoto and Nara) and also Kyuushu (Oita). I will have to run as fast as I can to try and see as much as possible of the unknown Japan that waits for me in these places. It is all very new and for that reason I will try to keep you briefly informed of the progresses. In the end I will return to Tokyo and get ready for my final trip back to Portugal.
Today was my first day in Osaka, and it was very tiresome! I visited Tennoji park, Shitennoji Temple, Nakanoshima park that is in a small island. After that I went to the port area and saw the Aquarium and the Ferris Wheel next to it, although I didn’t go inside the Aquarium. I then went to Namba, a very busy area, where I visited America Mura, or the American Village, and also Dotombori, which is an area famous for thousands of restaurants! Here are some pictures of today, I hope you like it!






domingo, 30 de agosto de 2009

Novidades / News

Sim, eu sei que tenho sido muito pouco assídua, e que não vos tenho dado notícias regularmente. Cá estou para rectificar essa situação!
Sim, continuo no Japão, e vou ficar aqui mais uns dias, mas o dia do meu regresso à pátria aproxima-se a passos largos. Este mês passou a voar. Entrei oficialmente de férias no dia 4 de Agosto, dia em que entrguei o meu último trabalho final, e logo no dia seguinte recebi uma visita de Portugal.
É sempre fantástico poder conversar e partilhar momentos com compatriotas. Não é só por serem pessoas que vêm do mesmo país que nós. Não, vai muito para além disso. É a possibilidade de partilhar pontos de vista, de conversar e estar no mesmo comprimento de onda, por assim dizer. Claro que é óptimo conhecer pessoas diferentes, de todos os cantos do mundo, isso abre-nos horizontes, e ajuda-nos a mudar as nossas perspectivas do mundo. Mas como foi agradável partilhar o pensamento facilmente, depois de um ano a batalhar para me expressar.
Então, aproveitando a visita e as minhas férias, eu andei a passear aqui por Tóquio. Quando se vive num local entra-se numa rotina, daquelas em que não se visita sequer o museu do outro lado da rua! E sim, foi isso que aconteceu largamento comigo aqui. Visitei algumas coisas ao longo do ano, como por exemplo fui à Disney, e a outros locais bem animados, mas não visitei nem metade do que gostaria de visitar. Foi preciso receber uma visita Lusa em Junho para perceber como é mesmo difícil sair da rotina quando se está só. Nessa altura aproveitar para conhecer bastantes coisas, nomeadamente o Museu Ghibli (que é simplesmente um castelo de sonho!), e foi quando fiz a minha primeira visita a Quioto, a antiga capital. Fiquei a conhecer restaurantes, onde eu nunca entrava sozinha, sobretudo porque normalmente optava por cozinhar em casa, e lojas de lembranças, conhecimentos que ultimamente me têm sido muito úteis.
No último mês de Julho, em que andei mesmo ocupada, conheci muitas pessoas novas, sobretudo alunos do curso de Português, e por isso as últimas semanas de aulas foram marcadas por muitos almoços e encontros para tomar chá. Foi muito bom, e eu fiquei muito animada. Desde então entrei em Agosto e aí foi pedal a fundo até agora. Visitei tantas coisas que vou apenas mencionar algumas. Visitei alguns dos parques mais bonitos de Tóquio, destaco o Shinjuku Gyoen, que é lindo. Visitei a Tokyo Dome e Odaiba, em que pude andar nas Rodas-Gigantes, que me deram vistas lindas sobre a capital, quer de dia, quer de noite. Estive a 250 m do chão na Torre Tóquio, e passeei nos Jardins do Palácio Imperial. O Museu de Tóquio e o Parque de Ueno agradaram e encataram. Enfim, fui a tantos lugares, e vi tantas coisas. Fiz duas viagens de um dia para visitar duas atrações turísticas aqui perto de Tóquio: Kamakura (uma antiga capital Japonesa, onde molhei os pés no Pacífico pela primeira vez!) e Hakone (um espaço de grande energia geo-vulcânica conhecida por termas e erupções de enxofre na montanha). Enfim, tenho tantas histórias para contar, e tão pouco tempo antes de voltar. Deixo aqui algumas fotos das minhas aventuras. Espero que vos dê uma pequena imagem do que tenho vivido nestes tempos.
E para o futuro, é só voltar? Claro que não! Vou embarcar na minha viagem de despedida. 10 dias a correr pelas áreas de Kansai e Kyuushu. Vou visitar Osaka, Hiroshima, Oita (o meu único poiso em Kyuushu, e cidade gémea de Aveiro!), e Quioto, mais uma vez. Depois regressarei a Tóquio por uns dias para preparar o meu regresso. Muitas aventuras estão à espreita, e daquilo que ouvi dizer esperam-me ilhas de montanhas encantadas habitadas por macacos, veados e muitos outros animais, rodeados por templos, e jardins de fazer voar a imaginação. Será desta que encontro o meu sonho nipónico?



Yes, I realise I haven’t been updating as much as I should. So, I’ll try to do my best to do so today.
I am still in Japan, and I’ll still be here for a few more days, but I will soon return to my birth place. This month time flew like no other. On August 4th my holidays officially started, as soon as I handed-in my last final paper, and on the following day I received a visitor from Portugal.
It is great to have the chance to talk and share all kinds of moments with people from the same place as you. Those people, they don’t just come from the same place, it goes well beyond that. With those people we have the chance to share points of view, to maintain a conversation with a similar pattern of thought. Of course it is great meeting new different people from all over the world, they allows us to expand our horizons and to change our perspectives of life and the world. But having a Portuguese friend around allowed me share my thoughts easily, which felt great after almost a year in which every conversation meant to strive to get my ideas across the cultural barriers.
So, in order to fully enjoy my time with a friend and my vacation, I saw a lot of new places in Tokyo. Living in one place drags you to a kind of routine that you don’t really wish to break in order to go to new places, even if they are just across the street! That was exactly what happened to me, I did visit some places, I went to Disney, and to other cool places, but not nearly half of all I wanted to visit. It took a previous visitor in June to make me realize how much I was missing, stuck in my little routine! I went to really nice places at that time, namely the Ghibli Museum (simply a dream land!), and I also went to Kyoto, the old capital, for the first time then. I got to know restaurants where I had never been, and souvenir shops, all of which are proving to be very useful lately.
In the past July, a month that kept me ever so busy, I met a lot of new people, mainly students of the Portuguese course, and because of that my last couple of weeks of classes were filled with lunch and tea meetings. It was great, and it made me incredibly happy. After that, there came August, and the time speed raced until now. I visited so many places, I couldn’t possibly mention all right now, but will only name a few. I visited amazing parks here in Tokyo, Shinjuku Gyoen was particularly beautiful! I visited Tokyo Dome and Odaiba, and in both places I was able to ride the giant Ferris Wheels there that gave me some of the most amazing views of Tokyo I ever saw, both during the day and the night. I was in Tokyo Tower’s special observation deck, 250 m, above the ground, and I strolled through the gardens of the Imperial Palace. The Tokyo Museum and the Ueno Park were so pleasing. I visited many places and saw a lot of new things. I went on two day trips from Tokyo: Kamakura (an ancient capital, where I could feel the water of the Pacific on my feet for the first time) and Hakone (an active geo-volcanic area best known for thermae and sulfur eruption in the mountains). Oh, I have so many stories to tell, and so little time before I go back. I will leave here some photos of some of these places, I hope it helps getting a picture of what I have been up to.
And, what next? Return home? No way! Before doing that I am about to embark on a jouney that will allow me to say farewell to Japan, for now. For 10 days I’ll be travelling around the areas of Kansai and Kyuushu. I’ll be stopping at Osaka, Hiroshima, Oita (my only stop in Kyuushu, and the twin city of Aveiro, my city in Portugal!), and, last but not least, Kyoto, once more. I will then return to Tokyo, where I will prepare for my trip back to Portugal. Many more adventures await, and for what I heard I am expected to find enchanted mountainous islands, inhabited by monkeys, and deer, and plenty of other animals, who live surrounded by temples and mind blowing gardens. Will I find my Japanese dream now?

Takao san

Nas férias de Primavera, depois de dois meses sem aulas, e com o novo ano lectivo a começar, resolvi escapar do betão de Tóquio e ir para um local mais natural. Decidi seguir a recomendação do meu guia de Tóquio e ir ao Monte Takao, de 600 metros de altitude, nos arredores de Tóquio, a mais ou menos 50 minutos de comboio, partindo de Shinjuku. Acordei cedo, preparei a mala com água e a máquina fotográfica e lá fui até Shinjuku. Lá saí pela saída Oeste (Nishi guchi) da movimentada linha JR (a principal linha de comboios do Japão) no andar -1, e segui para a esquerda, pelo Departamento comercial Odakyu, para chegar à entrada directa na linha Keio (privada). Com alguma ajuda do staff, que não falava muito Inglês, consegui comprar nas máquinas um bilhete de ida e volta(por mais ou menos 800 ienes) para Takaosanguchi, que leva mesmo ao início da subida do monte. Havia a possibilidade de comprar também um bilhete que ainda incluísse duas passagens ou no elevador (cablecar) ou numas cadeiras suspensas (chairway) que ficaria por cerca de 2000 ienes, mas eu estava decidida a fazer o percurso a pé por isso optei simplesmente pelo bilhete de comboio.
Ao chegar a Takaosanguchi, encontrei logo um mapa em Inglês, em que eram mostrados os sete caminhos disponíveis para atingir o topo. Depois de dar uma olhadela nas lojinhas de souvenirs, e comprar uns doces típicos em forma de folha de Momiji (duros como tudo, juro que podia ter partido um dente! Mas muito saborosos, não obstante) decidi ir pelo caminho nº1. Foi uma boa opção. Este caminho é formado por uma estrada de paralelo estreita – que sobe consideravelmente, até ficarmos sem saber se estamos a andar ou a subir escadas – em que passam carros por vezes, mas que é muito segura. Havia pessoas a subir e a descer, e eu fiquei encantada com a maneira afável com que me cumprimentavam, alguns mesmo em Inglês.
A subida era mesma dura, e foi com bastante persistência que lá fui indo. A estimativa para este percurso era de cerca de 120 minutos, mas fazendo paragens a meio do percurso para comer qualquer coisa, tirar fotos e visitar o Santuário Shinto Yakuo-in, eu acabei por demorar quase três horas. A meio do percurso, que é o fim da linha quer para as cadeiras suspensas, quer para o elevador, encontra-se um pequeno complexo de restaurantes e lojinhas, onde eu aproveitei para comer um doce quente com feijão vermelho (azuki) em forma de folha de Momiji, e tirar algumas fotografias à paisagem. Logo depois, seguindo o percurso, está a reserva de macacos, que pode ser visitada mediante pagamento de entrada (500 ienes) mas que eu não visitei, e pouco depois a entrada para o santuário, assinalada pela característica porta de madeira da entrada.
O Santuário encontra-se espalhado nas encontas da montanha, e os seus caminhos são por vezes labirínticos, mas vale bem a pena visitá-lo. As muitas escadas são um desafio para as pernas cansadas de quem já subiu mais de 300 metros, mas o esplendor da construção é uma boa recompensa. Apesar do restante percurso estar bem assinalado, uma vez no templo as indicações para o topo do Takaosan escasseiam, e eu senti que estava um pouco perdida. Valeu-me a simpatia de várias pessoas que vinha a descer, e que ao verem o meu ar confuso a olhar para o mapa me encorajaram dizendo “Vá, só mais um esforço, faltam cerca de 10 minutos naquela direcção”. Fiquei-lhes extremamente agradecida, e renovei a minha visão da simpatia Japonesa que é facilmente perdida no rebuliço da capital.
Cheguei finalmente ao topo. Foi com algum cansaço que me pus a apreciar uma bela vista de montanhas cobertas de árvores ainda semi-despidas, porque apesar de Março estar já a chegar ao fim, naquela zona o frio ainda se fazia sentir, e por isso nem as cerejeiras haviam florido ainda. Foi pena o céu estar nublado, não consegui nem um vislumbre o Monte Fuji, apesar do mapa de montanhas que está disponível para podermos identificar cada uma na paisagem que vemos lá em cima. Mas mesmo sem o Monte Fuji, foi com um sentimento de dever cumprido que comecei a minha descida.
Uma vez que havia sete trilhos diferentes, ainda que nem todos comecem e acabem no mesmo local (alguns só existem até meio do percurso), eu decidi tomar um caminho diferente na descida. Sem que nenhuma indicação houvesse, pelo menos que eu pudesse perceber, sobre o perigo de algum dos trilhos, decidi seguir o número 4, que descia até ao meio da montanha, e se juntava ao número 1 na zona de término do Elevador. Depois de alguns metros neste caminho percebi porque eram raras as pessoas nele. Nem protecções, nem caminho bem formado, só um caminho de terra e raízes na escarpa da montanha, com ravinas cobertas de árvores e matagal a descer centenas de metros a pique. Nessa altura fiquei com medo a sério. Estava sozinha. Não tinha dito a quase ninguém que pretendia subir o Monte, e o caminho estava quase deserto. Se acontecesse alguma coisa, dificilmente me encontrariam. Valeu-me um casal com um filho pequeno que seguia à minha frente, e um outro casal jovem que vinha mais atrás. Sentindo a presença deles senti-me segura, porque se acontecesse alguma coisa sempre tinha alguém que pudesse prestar algum auxílio. Apesar de seguirmos distantes uns dos outros, penso que estavamos todos presos à segurança de nos termos uns aos outros, e por isso mantivemos as distâncias, e fomos sempre tentando manter contacto visual. Depois desta aventura, em que caí de paraquedas sem reparar em nenhum aviso em relação ao perigo deste trilho (pelo menos, um aviso que eu pudesse perceber), retomei o caminho nº1 até ao final da descida, e segui para apanhar o comboio que me trouxe de volta ao coração de Tóquio, e depois a casa. Na lembrança ficou um dia cansativo mas bastante revigorante, que me deu energia para enfrentar o início do novo ano lectivo que esperava ansiosamente. Espero que gostem das fotografias!


During Spring break at the University, after two months without classes, and with the new school year coming up, I decided to run away from the concrete filled Tokyo to a place much more nature filled. I followed the recommendation in my Tokyo guidebook and went to Mount Takao, nearly 600 meters high, in the outskirts of Tokyo – more or less 50 minutes by train from Shinjuku. I woke up early, packed my bag with water and my camera and there I left for Shinjuku. I left Shinjuku station from the west gate (nishiguchi) of the JR lines (the main train line in Japan) in Basement Floor 1 and went left, crossing Odakyu Shopping centre, to get to the direct entrance of Keio line (a private railway company). I needed some help from the staff, who was helpful, despite having trouble in speaking English, but was finally able to buy a return ticket for Takaosanguchi in the ticket machines (about 800 yen), which is the terminus and the exit that is closest to the hiking trails. To those who wish for that, there is also a 2000 yen ticket that includes 2 rides either in cable car or chair way, both stopping about half way through. Since I was determined to hike from the bottom, I bought only the normal return ticket for the train.
As soon as I left the Takaosanguchi station I could see a map in English showing all the 7 hiking trails. Soon after a little walk to the right of the station exit I found the souvenir shops near the entrance to the cable car and chair way, and bought myself some typical sweet cookies that are shaped as Momiji leaves (don’t be fooled by their delicate appearance, those things are hard as a rock, if you’re not careful you may end up losing a tooth. Nevertheless, they taste pretty good). Going up I decided to take trail number 1, and boy that was a good choice! This trail consists of a narrow paved road where sometimes a car or two pass you by, but that is very safe to hike, despite the lethal inclination (truly, your brain gets confused without knowing for sure if you’re hiking or climbing stairs!). The kindness of people going up and down that trail, who greeted me as I passed, sometimes in English, was truly surprising, since by that time, my impression on the Japanese people was limited to my daily commutes in Tokyo, and that was not kind at all.
It was a long and hard journey, and took some persistency to get to the top. According to the trail map this trail should take about 120 minutes up, however, after a lunch break at the shops half-way through, some picture taking and the visit to the Yakuo-in Shinto Shrine, it took me about 3 hours to reach the top. Half-way through there are several shops and little restaurants near the final stop of the cable car (the chair way stops about two minutes down and it has vending machines nearby), so I stopped there and had something to eat. Additionally I tasted another traditional sweet, again shaped as a Momiji leaf, but this time filled with red bean paste (azuki) and served hot. Once you get on the trail you find the monkey reservation that van be visited for 500 yen, which I chose to skip and a short while after that you come to great wooden door that signals the entrance to the shrine.
The shrine is spread across the mount and it becomes a kind of labyrinth sometimes, where I found there was not enough information on how to reach the top at this point. There are so many layers of the shrine connected by steep stairs that pose a real challenge to very tired legs, but I thought the beauty of that shrine was well worth the effort. Missing the information on how to go to the top at this point, for the first time since the start, I was rescued by other hikers who, upon realizing how lost I was, kindly said in English “Hang in there, it is just about ten more minutes in that direction”. God I was grateful to them! And once again in this trip my vision on the Japanese kindness was revised (it sure is something that in the crazy pace of the capital is hard to find – although not impossible!).
I reached the top! I was extremely tired by then but the amazing views from up there were breath taking. The whole mountains surrounding Mount Takao were covered in still bare trees. The warm weather of the end of March felt in Tokyo had still not reached there, and the Sakura (cherry-trees) had not blossomed yet. The clouds in the sky stopped me from seeing Mount Fuji, even though I tried to identify its direction in the mountain map that is available at the top observation post. After resting a bit, with a feeling of fulfilled duty, I started my descent.
There are 7 trails in total, but not all of them have the same length, some of them only include a part of the complete course length (only numbers 1 and 6, go all the way). Wanting to see as much as possible of this mount, I decided to take a short trail that would connect to number 1 at halfway. I decided to take trail number 4, which was surprisingly deserted. Soon after, I understood why. There weren’t any protections on the sides of this trail, that didn’t even had a well formed trail anyway. It was nothing but a small course determined by the mount’s side and the tree roots, and that looked to some pretty scary ravines covered in dense vegetation, going hundreds of meters down. God, I was so scared at this point. Imagine, I was completely alone on my hiking, and I had told no one in Tokyo that I would go hiking that day, and suddenly I found myself wondering what I could do if anything went wrong. Fortunately, I saw that a couple and a child were a little ahead of me, and that another couple was following me at some distance, and I was relieved, because at least if something happened I could scream and they could call someone. Having each other nearby was like a safety belt for all of us. We kept our distance from each other, but we also strived to keep visual contact. After this crazy adventure, in which I found myself without having seen any danger warning signs (that I could understand!), I resumed trail number 1 and went back down. I took the train back to Tokyo, and back home. I still remember that day, such a tiring day, but one that helped recharge batteries and face the new school term that I had been anxiously waiting for. I hope you enjoy the pictures.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Saída raparigas / Girls' night out

Antes de começar: uma novidade no Blog. Este Blog passa a ser bilingue a partir de hoje. Todas as mensagens serão publicadas em Português e em Inglês. Espero que gostem!


Recentemente aconteceu algo que me tem deixado muito mais feliz. O meu relógio avariou-se! E para minha surpresa, eu que sou relógio-adicta, nem me preoupei muito. Em vez disso deixei de me preocupar muito com as horas. Quando tenho algum compromisso, claro, mas fora isso, estou a abraçar a liberdade de andar ao sabor do tempo natural, e não do tempo cronometrado pelos ponteiros do tic-tac.


Sexta à noite, depois do trabalho, mais uma aula de Inglês especial para o meu aluno médico, e as meninas reuniram-se no escritório para uma ida ao pub. Sem nenhum outro plano, e ninguém em casa à espera mesmo, aceitei ir com elas. Fomos até ao Hub em Nishi Shinjuku (zona oeste de Shinjuku), muito perto do escritório da escola de línguas onde eu trabalho. Tem piada, a primeira vez que fui a um bar quando cheguei ao Japão também foi ao Hub mas dessa vez em Minami Shinjuku (zona sul de Shinjuku), perto das zonas mais comerciais, os departamentos Lumine e Takashimaya.

Mas como estava a dizer, lá fomos as quatro até ao Hub. Descemos as escadas até à cave onde ele fica, e felizmente tivemos rapidamente a oportunidade de nos sentarmos numa mesinha. Vieram as bebidas, e depois as comidas, e o bar começou rapidamente a ficar mais animado, e substancialmente mais cheio também (da segunda vez que fomos buscar as bebidas ao balcão, a fila já subia as escadas!).

Foi uma noite encantadoramente internacional. Sim, eu, Portuguesa, a D., Inglesa, mas com uma costela Japonesa pelo lado da mãe; a Re e a Ra Japonesas! Todas quatro, no centro de Tóquio, num pub inglês, a comer aperitivos fast-food americanos (asas de galinha fritas), italianos (pizza) e até, segundo a nomenclatura inglesa, franceses (batatas fritas); isto enquanto se bebia cerveja Irlandesa e vodka russa, e se via na televisão mais uma etapa do Tour de France.

Não que a comida ou a bebida sejam do outro mundo, fica aqui a recomendação, quando em Tóquio, uma paragem num dos muitos Hub em Shinjuku pode revelar-se uma óptima experiência, até porque muitos são os Japoneses que os frequentam, fãs dos jogos de futebol europeus, ou na esperança de encontrar estrangeiros para conversar.


Introducing: a novelty in this Blog. The Blog is to be, as of today, bilingual, so I shall publish every message both in Portuguese and then in English. I hope you enjoy it!


Something that has made me really happy happened recently. My wrist watch broke! For my big surprise, watch-a-holic as I am, I ended up not worrying so much about it. Instead, I just stopped worrying about the time. Of, course when I have an appointment I still worry, but other than that, I am trying to embrace the freedom of enjoying the natural flow of time, instead of marching to the rhythm of the clock’s pointers.

Friday night, the work was over – another English class with a student who is an MD – and the girls got together at the office to go out to a pub. Without any other plan and no one at home waiting, I tagged along. We went to the Hub in Nishi Shinjuku (west area near Shinjuku Station), which is close to the school’s office where I work – It’s funny to remember that the first bar I went to after arriving in Japan, was also the Hub, but in the Minami Shinjuku area (south area near Shinjuku Station), an area popular for big and famous department stores, such as Lumine and Takashimaya.
As I was saying, there we were, the four of us, going to the Hub. We went down the stairs to the basement where it is located, and fortunately had a table becoming available shortly. The drinks came, followed by the food, and the rapidly the bar became much noisier and more crowded (the second time we went for drinks, the line was already going up the stairs towards the street).
It was a perfectly international night out. Yes, it included me, Portuguese; D., English but with Japanese blood from her mother; Re and Ra, both Japanese! All four of us in the centre of Tokyo, in a British Pub, eating American chicken wings, Italian pizza, and even French fries; meanwhile drinking Irish beer and Russian vodka, and watching the Tour de France on Tv.

Not that the food or the drinks might be out of this world, but still I strongly recommend a visit to any of the Shinjuku’s Hub bars. It may well prove a splendid experience, since there are many regular Japanese clients, passionate about European football games, or simply looking for the chance to talk to a foreigner!
Por mero acaso encontrei uma imagem, de um outro blog, espero que gostem!
Just by chance, here's an image from another person's blog. I hope you like it!

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os outros

Alcançar uma meta, cumprir um sonho, atingir objectivos... Tudo isto são coisas que falam alto, e nos levam às nuvens. Lutar por aquilo em que se acredita e fazer por cumprir algo a que nos propomos é algo que para mim é das coisas mais importantes na vida, mas acima disso, só ver a felicidade daqueles que nos são próximos a fazer o mesmo, e a terem o merecido reconhecimento.


Vivemos num mundo em que as aparências comandam as acções das pessoas, que tudo fazem a troco de algo... é mundo do vácuo no espírito das pessoas que vivem de ilusões sem nada por onde se lhes pegue para além de uma imagem ilusória que não tardará a desavanecer-se em fumo deixando a sua essência vazia a descoberto. Quando encaro este tipo de mundo sinto-me perder o ar, e perder a esperança no amanhã. Que tipo de esperança pode vir de uma situção tão cinzenta de pessoas que morrem de fome ao lado das casas multimilionárias de novos ricos que esbanjam milhões em pares de calças? O problema é que o grande papão moderno da nossa sociedade, o consumismo desenfreado que leva famílias ao limiar da pobreza extrema com o sobreindividamento, começa a passar as suas patas até por mim, e eu sinto-as caminhar, peludas, pela minha pele. Produtos electrónicos que ficam ultrapassados no dia seguinte, mais serviços que ninguém usa no tempo que nem tem, mais bugigangas para enfeitar um sítio onde mal temos tempo de nos deitar. Uma vida frenética de correrias e compras, e trabalho para no final ganhar mais dinheiro para poder correr mais, comprar mais e ter de trabalhar cada vez mais, numa espiral sem fim.
Mas ultimamente o meu mundo tem ficado um pouco mais brilhante, e tem recebido umas cores. Muita coisa tem acontecido nos últimos tempos, e penso que pode não ter sido muito mas se vir o meu interior como uma árvore, acho que cresci mais uns centímetros, e desnvolvi um ou dois raminhos. Decidi que não vou deixar os meus problemas aqui estragarem o meu sonho que sempre foi vir aqui. Decidi que vou voltar para Portugal com recordações bonitas do Japão, e agora tenho mais energia que nunca para as alcançar. Esta semana chegou ao Japão a primeira, de apenas duas, visitas vindas de Portugal. É alguém que me faz muito bem ter por perto, e juntas temos aproveitado para conversar e ver algumas coisas. É a ter de lhe explicar muitas coisas que para mim já se tornaram mais normais que percebo o quanto já me adaptei a esta vida. Nessas explicações revejo o caminho longo que percorri deste lado, e vejo o caminho que devo seguir de ora em diante. Vamos passear mais, e ter alguém de Portugal ao lado para partilhar pensamentos e pontos de vista fazia-me tanta falta.
Acabo de ficar muito contente por perceber que tenho a sorte de ter amigos que se destacam dos cinzentos mórbidos desta realidade em que vivemos. Pessoas que lutam por valores e ideais sem se deixar parar por nada. Que continuam a perseguir aquilo que buscam mesmo quando montanhas se atravessam nos seus caminhos. Uma dessas pessoas acaba de alcançar um reconhecimento - algo que quem a conhece, sobretudo alguém que a conhece, como eu, desde o infantário, já lho reconhece há muito muito tempo - público por uma grande causa pela qual tem batalhado muito. A TVI fez uma reportagem sobre esta causa, e poderão consultá-la no link abaixo:




Parabéns Joaninha, e continua a mudar este mundo, uma tampinha de cada vez!
Tinha 12 anos da primeira vez que me lembro de ter lido o poema que se encontra a seguir, mas claro que a canção interpretada por Manuel Freire já há muito que ouvira. Nas palavras imemoriais de António Gedeão muita coisa fez sentido na minha cabeça então ainda tão diferente. Cresci e mudei, mas a cada vez que leio e ouço estas palavras encontro mais um ponto, mais uma vírgula que me passara ao lado da última vez... Espero que vos diga algo, porque a mim fala bem fundo,


"Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alácre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorna de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.

In Movimento Perpétuo, 1956"


terça-feira, 9 de junho de 2009

Novidades fresquinhas

Sim, já cá não passava há imenso tempo, mas as horas do dia não são suficientes para a loucura que é a vida por estes lados. Como me faz falta o ritmo de Portugal! Bem, quem me conhece sabe que o meu ritmo é algo mais apressado que os dos demais no nosso Portugal à Beira-Mar plantado, mas nada se compara ao ritmo de Tóquio. O cansaço físico, mas sobretudo o psicológico desta vida de correria frenética é suficiente até para me sugar a vontade de ler, escrever, dançar ou passear. Agora compreendo as multidões de alunos que dormem na Biblioteca ao longo do dia, e os muitos passageiros que não aguentam o João Pestana durante as viagens de comboio.
O tempo continua a pregar-me muitas partidas... Corre acelerado e cada vez mais se aproxima o dia em Setembro em que estarei de volta ao meu lugarzinho... Mas ao mesmo tempo que corre desenfreado - parecendo que ainda ontem recomeçaram as aulas, e já estamos em Junho, e já tive os exames de meio de semestre de Japonês - simultaneamente, o tempo brincalhão anda a gozar comigo, e vai-se arrastando até mais não.
A minha rotina anda na mesma. As aulas de Japonês que são a minha tortura diária, mais as de Mestrado em que posso respirar e aproveitar, mais as pequenas investidas na minha pesquisa... A minha pesquisa, essa pelo menos começa a tomar contornos mais definidos, mas quando penso em tudo o que há para fazer antes de regressar, sinto-me desmotivar, porque penso que não vai ser suficiente. A minha pesquisa precisava de muito mais tempo no Japão, mas eu não conseguiria suportar continuar aqui, a minha sanidade mental e a minha condição física não iam aguentar. Às vezes olho para os muitos estudantes internacionais, e os muitos estrangeiros que aqui vivem e penso se eles terão alguma coisa que eu não tenha, alguma força maior que os ajuda a ultrapassar aquilo que a mim me deita abaixo. Não sei se será esse o caso, mas sei que conheço demasiado bem um tipo de vida que é muito diferente deste. Este período deste lado mostrou-me muita coisa sobre mim mesma, e nem sempre gosto do que vejo em mim. Não sou o ideal de pessoa que aspirava ser, e nem sei se o vou conseguir ser um dia. A minha abertura cultural e o respeito pela diferença são postos a provas de fogo, e nem sempre passa. Revolto-me com muita coisa à minha volta, e dias há em que tenho de me bater mentalmente para ultrapassar o mau humor que sair à rua me causa. Faltam-me tantas coisas aqui.
A verdade é que nem tudo é negro, mas em certos dias o sol não brilha por mais que eu queira. O que me vale são os laços que me prendem a Portugal, e com quem falo com alguma regularidade, eles mostram-me a pessoa que eles vêem em mim, mesmo quando eu me esqueço, e isso é muito importante.
Mas voltando à minha pesquisa. Fiz a minha primeira conferência pública, num encontro que reuniu professores de todo o Japão sobre diversos temas ligados à Educação. Quase todos eram estrangeiros, e foi tão bom ter estado lá, dois dias, com eles, a partilhar experiências e ideias, a conhecer um mundo novo, o da pesquisa a sério. Claro que me senti mesmo amedrontada. Algumas das pessoas que assistiram à minha conferência eram investigadores no mesmo campo de estudo que eu, a focar aspectos semelhantes, mas eles contam já com anos de investigação, e eu só estou ainda a aprender a gatinhar! No final, esperei ansiosamente pela reacção deles, e fiquei surpreendida pelo apoio que me deram, os conselhos e sugestões que me apresentaram, e sobretudo por me terem tratado como alguém igual a eles, apesar de ainda sem muita experiência.
No Japão tenho questionado muito o meu posicionamento na hierarquia social. No meio de Japoneses, e sobretudo se a Língua a usar for o Japonês, o meu lugar é o de um bebé. Um ser incapaz de fazer algo por si próprio, que não tem voz, não consegue falar. A imagem que as pessoas nesses contextos devem ter de mim é a de um ser transparente, vazio, minúsculo. Isto afectou e continua a afectar-me muito, porque nunca antes me tinha sentido assim. Nem quando era criança me sentia assim (sempre fui responsável, e sempre me habituei a que os adultos me tratassem como alguém capaz), e mesmo quando estive em Inglaterra, não houve nenhuma situação em que me sentisse inferior só por não ser "native speaker". Em Português, Inglês, Espanhol (ainda que sem o ter estudado formalmente) e até no Francês (em que falar é difícil para mim) me sinto capaz de me mostrar como uma pessoa inteligente e capaz de falar sobre uma multiplicidade de tópicos. Em Japonês o caso muda de figura. Claro que melhorei desde que aqui cheguei. Tenho aulas todos os dias, já sou capaz de ler muitos "Kanji", e consigo perceber discursos em velocidade de "native speaker" dependendo do tipo de linguagem e o tópico usados. Percebo muitas das coisas que ouço, mas quando quero abrir a boca sinto-me gaga. Ou pior, sinto-me muda de repente, a imagem é a de alguém que abre a boca confiante de que vai falar, mas cuja voz falta no momento crucial.
Mas há coisas que estão a melhorar, e não deve ser à toa que todos os estrangeiros dizem que o primeiro ano é o pior. Bem, para mim será o único. Espero regressar um dia, ou muitos mais dias ao Japão, e mesmo a Tóquio, mas da próxima só como turista, ou noutro tipo de visitas breves.
Por falar em mudanças, no mês passado houve uma grande mudança: na cor do meu cinturão no Shorinji Kempo. Passei o exame 3Kyu (sankyu), e por isso agora estou no primeiro nível de cinturão castanho. O meu novo cinturão é lindo, não por causa da cor, mas porque só para nós que nos vamos embora antes de alcançarmos o cinturão negro, o clube encomendou um cinturão castanho com o nosso nome bordado em dourado. Pode não ser muito, e claro que não significa que eu esteja pronta a defender-me em qualquer situação, mas sinto que percorri um longo caminho, a conhecer a minha vulnerabilidade e a minha força, e a aprender coisas que me poderão ser muito úteis. Espero poder continuar em Portugal, se não nesta arte marcial (que realmente preferia continuar) então noutra, uma que foque o aspecto de defesa como esta o faz, e que seja fundada em ideias que partilho, tal como partilho dos desta.
Nesta semana uma outra novidade vai acontecer. Vou ter a minha primeira visita de Portugal. A minha orientadora vem passar férias ao Japão. A minha orientadora também é apaixonada pelo Japão, e vai cá ficar três semanas. Vou estar com ela já na sexta-feira, e nem posso descrever como vai ser bom rever uma cara amiga e familiar.
Bem, mais novidades deverão aparecer nos tempos vindouros, e eu cá tentarei dar conta delas, mas até lá por aqui ficam votos de que todos se encontrem bem. E se quiserem dar-me notícias, estejam à vontade.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Histórias recentes

Pois, tenho de aproveitar enquanto o tempo assim o permite. Cá estou de novo para contar mais coisas sobre a minha experiência no Japão. As aulas começam na próxima segunda-feira, 13 de Abril, depois de dois meses de férias que não foram exactamente o que eu tinha em mente.
Tive demasiado tempo de férias, e nem o part-time que continuou durante todo o tempo foi suficiente para evitar que as aulas me fizessem falta. Sim, eu sei, sou estranha, mas não o consigo evitar! Agora estou de regresso às aulas, o tempo está melhor, a Primavera está aí em força e eu estou a ficar muito mais animada.
Durante as férias, continuei a dar as aulas de Inglês, o meu part-time, mas de todos os planos de leituras, e viagens e passeios e experiências, infelizmente não consegui concretizar muitos. Isso deixa-me um pouco triste, mas a verdade é que eu penso sempre em fazer um milhão de coisas e esqueço-me de que o tempo é limitado e de que só tenho um corpo, por isso já devia saber que era impossível fazer tudo. Mas ainda assim consegui fazer algumas coisas.
Durante as férias aproveitei para ler alguns livros interessantes, Huxley's Brave New World, que já queria ler há algum tempo, Banana Yoshimoto, que andava a tentar ler já desde antes de vir para o Japão, e Never Ending Story, de Michael Ende. Todos eles foram leituras agradáveis, tenho pena de não ter conseguido ler outros que também me despertam interesse, mas as leituras necessárias para a minha pesquisa também me ocupam algum tempo.
De passeios e viagens, ainda que não tendo sido muitos, consegui ir visitar a Disneyland, fui uma semana para a ilha Shikoku, uma das quatro maiores do Japão, e recentemente visitei alguns parques em Tóquio (Oji e Tatsumi) e o Monte Takao.
A semana que passei em Shikoku talvez não se encaixe bem na categoria de passeio, já que foi o Campo de treino de Primavera de Shorinji Kempo. Os meus dias eram passados entre os treinos na honzan, desde as 8h da manhã até às 8h da noite, e a pensão onde ficámos instalados. Estar lá foi uma experiência muito positiva, no que diz respeito ao treino, mas muito negativa também, no que diz respeito às instalações onde ficámos. Shikoku parece um sítio muito agradável, mas o regime militarista do treino não deixou margem para visitar e conhecê-la melhor, se bem que acho que isso foi uma escolha dos membros do nosso clube - isto porque o treino encerrava às 17h, e enquanto as demais universidades voltavam para as pensões e iam provavelmente passear e socializar, nós ficávamos mais duas horas e meia a treinar! Claro que isso foi bom para o desenvolvimento das nossas capacidades, mas sendo o único grupo que incluía estrangeiros, teria sido agradável os nossos sempai terem-se lembrado de fazer algumas escolhas diferentes.
A pensão, que realmente se tornou insuportável para mim, era uma pensão tipicamente Japonesa, com quartos de tatami, muito bonitos de verdade, o que até aqui estava óptimo. Contudo, ficámos 12 raparigas num dos três quartos disponíveis, que devia ter cerca de 22 metros quadrados, se tanto, contando no total só com uma casa de banho e um chuveiro. Poderão imaginar que, com cerca de 25 raparigas no total, a luta de manhã e à noite era muita. Se a isto se acrescentar o pormenor de que no Japão se encara o banho como uma altura de purificação e relaxamento, não estranhei, mas desesperei, ao constatar que as colegas Japonesas tendiam a demorar normalmente uma média de 20 minutos a tomar banho, mesmo a tentar despachar-se. Não foi uma experiência muito satisfatória. Houve dias em que às 2 da manhã ainda não tínhamos tomado todas banho, um completo desastre. Como é que uma pensão com estas características permanece em funcionamento é que eu não percebo, mas enfim, em todo o lado encontramos situações que nos desorientam.
À parte desta experiência menos positiva na pensão, os dias passados na honzan eram espectaculares, sobretudo porque os treinos com as pessoas do mesmo nível que nós permitiram-nos ver o quanto evoluímos neste semestre de aprendizagem, e também porque todos os sensei que nos treinaram eram pessoas fantásticas, que explicavam tudo muito bem, demonstrando tudo em pormenor, e mandando imensas piadas pelo meio.
Espero conseguir voltar a Shikoku desta vez como turista e com alojamento escrupulosamente escolhido por mim, para conseguir ver como é. Para já, deixo um vídeo com as fotos de lá, desta vez um vídeo com uma surpresa.
Espero que gostem!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Abril, novidades mil!

Estou de volta, e com mais histórias para contar, espero que gostem desta!
Rumo a uma terra de Titãs. Assim foi a minha jornada para visitar o Monte Fuji, ou como dizem os Japoneses, Fujisan. Começou um sábado de Dezembro bem cedinho. Fiquei de me encontrar com a minha amiga MT em Shinjuku, no ponto de partida dos autocarros da Linha Keio. Depois de nos encontrarmos e de nos instalarmos no autocarro esperavam-nos cerca de três horas de viagem rumo à Prefeitura de Yamanashi (ou Yamanashiken, em Japonês). Estava tão cansada nessa altura que mal o autocarro arrancou não consegui evitar adormecer. Mas em viagens não consigo permanecer a dormir por muito tempo, e por isso fui acordando algumas vezes. Da primeira vez que acordei pensei que ainda estava a dormir. A paisagem rasgada por arranha-céus e florestas de cimento e betão tinha dado lugar a um zona montanhosa espectacular, em que nas encostas das montanhas se eriçavam árvores despidas, e levemente salpicadas de pontinhos brancos, flocos de neve. As montanhas retorcidas mais pareciam os membros gigantes de Titãs que ali tivessem adormecido, e cuja pele se tivesse tornado rocha sólida. O sol nascia e os raios de sol incidiam sobre os pequenos flocos de neve fazendo com que brilhassem nos ramos despidos das árvores, formando quase árvores de Natal naturalmente enfeitadas. Fui batalhando contra o sono, para poder apreciar a paisagem ainda mais, e ver os vales por onde corriam os rios, ondulando nos seus percursos entre as fendas da montanha e as casas e os campos, agora sem culturas, das planícies, mas nem sempre ganhei esta luta.
Era quase meio-dia quando chegámos ao nosso destino, esperava-nos lá a Y., uma amiga da MT que o ano passado a visitou em Portugal, com a irmã N., altura em que nos conhecemos e passámos alguns dias interessantes a passear em Lisboa. Fomos até casa dela, onde nos esperava a N., e juntas comemos uma comida tradicional Japonesa Takoyaki,que são bolas de massa com polvo por dentro, feitas num assador especial. Que delícia!!! Comemos que nos consolámos, e aproveitámos para pôr a conversa em dia. Depois do almoço, a Y. conduziu-nos, à MT e a mim, uma vez que a N. não nos pôde acompanhar, até Kawaguchiko,um dos cinco lagos que circunda o Mt. Fuji. Mais uma hora de caminho, pelo meio das montanhas magestosas e em direcção ao sol que felizmente brilhava no horizonte.
A primeira paragem foi junto do lago, na encosta de uma montanha. Aí apanhámos um teleférico até ao topo onde nos esperava algo de fazer cortar a respiração. Pelo caminho até lá aprendi uma história tradicional, a do KachiKachi, a história de um pequeno animal da floresta que é apanhado por um lenhador para ser comido, acaba por matar ou magoar (consoante a versão) a esposa dele, e sofre uma série de vinganças cruéis de um coelho amigo do lenhador, morrendo no final. Uma das mais famosas versões desta história, ainda que fugindo ao enredo inicial foi contada pelo famoso escritor Japonês Dazai, e em inglês o título deste conto é Crackling Mountain, que tive a oportunidade de ler. Chegámos ao topo, subimos uns pequenos degraus de pedra, e oh, no horizonte o cume imponente do Mt. Fuji. Tão perto, coberto de neve e com o sol a incidir sobre ele, é mesmo uma paisagem lindíssima. Ainda estivemos algum tempo no miradouro a tirar algumas fotos mas depois seguimos caminho.
A paragem seguinte foi uma gruta gelada, em que quase tivémos de rastejar para conseguir passar em algumas partes. Depois de uma das últimas explosões do Mt. Fuji – lembrem-se que é um vulcão ainda no activo! – a lava infiltrou-se em fendas na montanha e desceu até cavernas nas profundezas do solo, formando grutas com estalactites e estalagmites. Infelizmente tirar fotos era impossível lá dentro, dadas as condições de luz e humidade, mas posso assegurar que valeu a pena, apesar das temperaturas negativas e o caminho irregular, apertado e escorregadio (melhor do que a casa assombrada na Feira de Março, podem ter a certeza).
Demos por encerrado o passeio e fomos para o Hotel. Fujiya, uma cadeia de hotéis em redor do Mt. Fuji foi onde ficámos. O nosso quarto era um típico quarto Japonês, com chão em tatami, amplo, onde no meio se encontrava uma mesa baixa com quatro cadeiras sem pés, tradicionais. Da janela, uma espectacular vista para o Monte. O jantar foi Europeu, num restaurante Francês no hotel, parte do pacote da estadia, mas antes de seguirmos para o restaurante, houve tempo para experimentar uma coisa nova: onsen, os banhos públicos. É uma tradição enorme no Japão ir aos banhos públicos, em que existe uma parte interior com chuveiros baixos, uma grande piscina onde as pessoas entram depois de bem lavadas, e por vezes, como neste caso, uma piscina aquecida exterior a dar para um jardim fechado. Tradicionalmente as onsen eram naturais, eram termas, lagos naturais de água aquecida pela actividade vulcânica vinda do interior da terra, que eram normalmente divididas ao meio por uma parede feita de canas de bambu, separando a parte de banhos de homens e mulheres. No interior do Japão existem algumas mistas, mas nesses o uso do fato-de-banho é opcional, sim, porque numa onsen é normalmente proíbida qualquer peça de roupa. As meninas foram-me explicando passo-a-passo o que fazer. Começámos por entrar numa sala de vestir com alguns cestinhos de verga. Lá despimo-nos e depositámos todas as nossas coisas nesses cestinhos. A partir daqui só se pode entrar na zona de banhos com uma toalha estreita que se coloca (nas mulheres)ao comprido em frente do corpo, desde o peito até ao meio da coxa. Entramos e dirigimo-nos a um dos chuveiros com banquinho em frente. Aí usamos a toalha como esponja de banho, e lavamo-nos repetidamente. O hotel contava no interior com uma piscina e Jacuzzi, então fomos primeiro a este, e depois seguimos para a piscina de fora. A água nestas piscinas é muito mais quente do que o normal, por isso convém sair de dentro da piscina e sentar-se na beira por algum tempo, para que o corpo recupere a temperatura normal. Pensei que me ia sentir muito embarassada, mas depois de lá estar dentro, uma pessoa abstrai-se, e a experiência foi tão boa que repetimos depois do jantar! A experiência de onsen é vista como um ritual que aproxima as pessoas, e normalmente inclui partes de convívio com comida e bebida depois dos banhos. Foi uma boa experiência. Da segunda vez, como iriamos dormir depois, no final voltámos à sala inicial onde vestimos os nossos yukata (kimonos leves de dormir, ou para usar em dias quentes de Verão) providenciados pelo hotel.
Chegámos ao quarto, onde a mesa havia sido desviada e três futons (a cama tradicional, são dois acolchoados um por cima do outro) haviam sido dispostos lado-a-lado no chão. Fomos dormir, e de manhã eu acordei às 6 menos um quarto para fotografar o nascer do sol a incidir sobre o Mt. Fuji. Foi dificil mas valeu bem a pena. Quando as meninas acordaram começámos a arranjar-nos para ir tomar o pequeno-almoço, um requintado buffet self-service, para depois fazer o check-out do hotel. Houve ainda tempo para um passeio a pé nas redondezas, até ao Lago Kawaguchiko, onde tirámos mais algumas fotografias. Depois foi seguir viagem com uma paragem pelo caminho. Uma aldeia de trabalhos manuais! Fomos fazer esferas de vidro. Foi bastante difícil e quase não conseguíamos porque é dificil coordenar os movimentos com a temperatura e tudo mais, mas no final lá conseguimos fazer uns porta-chaves engraçados.
Almoçámos num restaurante típico lá perto, famoso por ter sido o primeiro a fazer um prato tradicional com udon, uma massa japonesa mais grossa e redonda que tagliatelle. Era uma espécie de sopa de legumes com massa, e estava bem boa, mas as taças eram enormes!!! Depois comprámos algumas lembranças e voltámos para a casa da Y., onde tomámos chá com os pais dela e conversámos, até serem horas do autocarro de volta a Tóquio. Eram quase 7 da noite quando eu e a MT chegámos a Shinjuku, mas foi um fim-de-semana inesquecível. Meninas, muito obrigada por esta experiência, em que não só aprendi imenso sobre a cultura Japonesa, como ainda tive oportunidade para treinar o meu Japonês, que permanece algo básico!
Uma aventura em terras de Titãs, realmente uma óptima experiência, espero que tenham gostado.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Passeios em Tóquio

Demorou, mas finalmente chegou, o dia em que vou deixar-vos com mais novidades daqui destas partes do globo. Nem em férias tive muito descanso, e confesso que o meu cansaço nem foi tanto físico.
O tempo que passa muda-nos e vai-se tornando diferente consoante a nossa rotina. Estar de férias deu-me tempo para pensar, e os meus pensamentos nem sempre foram alegres, nem sempre estiveram aqui em Tóquio, e as saudades de Portugal apertaram. Mas já chegou Abril, e as aulas vão recomeçar, a Primavera está a chegar em força e as árvores começam a cobrir-se de flores. O meu espírito está a começar a ficar mais animado, e até as temperaturas estão a ficar mais agradáveis e a contribuir para que me sinta melhor.
Ontem, para aproveitar o bom tempo fui até ao Monte Takao, com 600 m de altitude, mas essa é uma história que quero contar com imagens, e por isso limito-me a dizer que foi óptimo estar em contacto directo com a Natureza, a caminhar pelo meio da floresta, ouvir o vento, as folhas, os pássaros. Bolas como sinto falta desse tipo de ambiente. Um dia, meio dia na verdade bastou para revitalizar o meu espírito, ainda que o corpo se esteja hoje a queixar da longa e dura caminhada.
Desta vez tenho poucas palavras e muitas imagens para deixar, o que espero ser do vosso agrado.
Primeiro, deixo um vídeo com fotografias que fui tirando quando ainda morava na residência, em passeios nos arredores. O centro de Tóquio é algo bem diferente do que aqui se poderá ver, uma vez que estas são as áreas suburbanas da Capital, mas tudo dá uma ideia de como é a vida aqui.

Depois, deixo um outro vídeo, este bem longo, da minha visita à Disneyland Tóquio, com os meus amigos internacionais. As fotografias são minhas e de uma das minhas amigas para que possam ver ainda mais!

Espero que gostem destas pequenas recordações em forma de imagem. Aproveitei para incluir também algumas das músicas que agora ouço por estes lados, algumas recentes outras nem tanto, umas com maior outras com menor qualidade - afinal, o fenómeno da música é semelhante em qualquer parte do globo, mas isto é só uma pequena amostra de alguns artistas aqui no Japão!

Volto em breve, com mais novidades para contar e mostrar.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Épocas de festas...


Cá estou eu de novo, para voltar a falar de assuntos passados porque na altura se tornou impossível falar neles. Desta vez vou contar em pormenor como foi a minha época de festas por estes lados.
Dezembro é uma altura de muitas festas para mim. Começa com o meu aniversário, passam uns dias e vem o Natal, e depois tudo culmina na Passagem de Ano, com um novo recomeço de vida, ou seja o retorno à mesma rotina, ou a decisão de mudar de vida para o novo ano (se bem que estas resoluções nem sempre acabem por se concretizar...).

Desta vez, Dezembro foi diferente. Era o mesmo mês, o calendário marcava a passagem dos dias da mesma forma, mas a verdade é que algo não parecia igual. O meu aniversário decorreu de forma pacata como já expliquei. No vídeo abaixo podem encontrar um pequeno clip de fotografias do jantar com o clube de Shorinji Kempo, e da minha micro festa com os amigos que fui conhecendo por cá. Infelizmente a altura não foi das melhores, muitos trabalhos e um tempo gélido e de chuva, por isso no total fomos apenas 5 a reunirmo-nos na Universidade, mas posso garantir que apesar de poucos, foi uma óptima celebração. Mas o melhor de tudo, foi mesmo a festa que tive em directo de Portugal, na madrugada de Sábado (13) para Domingo (14), com os meus familiares e melhores amigos reunidos na minha casa. Nunca esquecerei como foi importante falar e conviver com todas estas pessoas tão próximas ainda que à distância de um clique e de uma webcam. Muito obrigada a todos por me ajudarem a festejar o facto de estar a ficar um bocadinho mais velha (e, esperemos, mais madura e crescidinha - ainda que sempre com uma forte resolução de manter o meu síndrome de Peter Pan!).

Um pequeno passar de umas luas, e chegou a vez de celebrar o Natal. Em Portugal e pelo ocidente discute-se o crescente consumismo e a forma como o significado religioso se perde nesse mar de prendas para comprar e oferecer, no dinheiro que falta sempre, na comida que nunca chega, nos familiares que vêm sempre ou que nunca vêm...Enfim, é sempre o mesmo stress, sempre as mesmas confusões, mas por todo o lado cheira a Natal, e parece que o espírito da época, o zeitgeist (perdoem-me os erros mas alemão realmente nunca estudei!) natalício enche tudo. Ou pelo menos é isso que se passa comigo. Mas não neste ano. O Japão vibra em acorde dissonante nesta época do ano. Fora os muitos católicos e cristãos que por aqui se encontram, ou que daqui são, os restantes Japoneses vêem o Natal como um Dia de São Valentim. Uma data a comemorar com a cara-metade, de preferência na Disneyland ou na Disneysea (para quem já não consegue entrar na primeira, ou porque esta tem fama de ser para casais!), com uma boa dose de romantismo, e até, há quem diga, uma noite passada entre lingeries e comidas afrodisíacas em que não dispensam muito chocolate à mistura. Conseguem perceber o meu choque! Da primeira vez que disse que o Natal era uma data especial para passar com a família, e que na Passagem de Ano se juntavam os amigos em festas de animadas, os Japoneses à minha volta olharam-me como que para uma espécie de outro planeta, e eu interroguei-me sobre o porquê da sua reacção. Depois é que me explicaram: por estes lados passa-se exactamente o contrário: o Natal é para a alma-gémea, e a Passagem de Ano é a data a passar com a família, na terra natal e em perfeita serenidade e solenidade. Agora já sei como se sentiu a Alice no Outro Lado do Espelho, parece igual, mas nada o é mesmo!
E que fazer então numa data que aqui quase não significa nada do que normalmente deveria significar? Bem, vai-se passear com os amigos internacionais, cada qual com o seu credo e tenta-se passar um dia mais ou menos na companhia de quem nos é mais ou menos próximo. O nosso passeio foi até Ikebukuro, onde se encontra um centro comercial gigante que inclui um aquário e um planetário nos pisos de cima. Depois de um almoço num restaurante italiano fomos para o Sunshine City, e começámos a procurar o aquário. Depois de algumas voltas lá chegámos e decidimos que o planetário seria melhor. O espectáculo foi substancialmente diferente do que eu esperava, mas no fim, três de nós sentiram-se orgulhosos por terem conseguido perceber mesmo sem um nível elevado de Japonês e dois de nós sentiram que tinham tirado uma boa sesta durante o espectáculo! No final concluímos que se calhar o aquário teria sido mais interessante, pelo menos poderíamos ter visto o show dos pinguins e das focas.

Saímos e fomos tomar uma bebida quente a um café muito VIP que ficava a caminho da estação, para seguirmos para a missa de Natal especial (porque a meia-noite foi trocada pelas 19h), organizada na Universidade. O café era interessante, o preço é que não foi assim tão agradável, mas enfim, era Natal! Em baixo poderão encontrar uma foto lá tirada. Acabámos por chegar atrasados à missa, comigo já em brasa porque o pessoal parecia não estar minimamente preocupado, e ainda tivemos de esperar cerca de 30 minutos numa fila para poder entrar no auditório onde já se encontrava a decorrer a missa. Aparentemente a hora era para cumprir mesmo não havendo tempo de sentar todas as centenas de pessoas que pretendiam assistir ao serviço religioso, que decorreu, em Japonês (foi interessante, o ritual é tão padronizado que nem com a diferença da língua uma pessoa deixa de perceber exactamente o que está acontecer) . Interessante de ver foi o edifício de entrada na Universidade em que, com as luzes de algumas janelas acesas, se desenhava uma cruz. Depois acabámos a noite no apartamento do J. (que acaba de voltar para França - bonne chance!) a jantar sushi e massa chinesa! Claro que foi engraçado, mas não foi realmente Natal. Natal, tive um bocadinho depois de chegar a casa, com os meus pais, através da internet. Sim porque, apesar da distância, estive presente na ceia de Natal e na abertura das prendas!

Mais alguns dias passaram e chegou o dia 28 de Dezembro de 2008, o dia da partida para Kanazawa, para ir passar a Passagem de Ano a casa da família de uma das minhas amigas que esteve por aí por Portugal aqui há uns tempinhos. Dada a quadra festiva ela partiu antes de mim e eu estava confiante que não teria qualquer problema na viagem uma vez que já a tinha feito com ela uma vez. A viagem normal demora cerca de 4 horas de shinkansen (o comboio rápido), e inclui uma mudança mais ou menos ao fim da primeira hora. Nesse dia tudo foi diferente, mas essa, como dizia Michael Ende, é uma outra história, e será contada noutra altura. Mas enfim, lá cheguei ao meu destino bem gelado, mas sem estar coberto de neve. Pelo caminho, mesmo estando com uma disposição que não deu para apreciar convenientemente as coisas, pude ver zonas de planície cobertas de neve. Cenários vestidos de branco, com as montanhas e as árvores todas cobertas de neve, cortadas apenas pelos rios que corriam a atravessá-las. Como gostava de ter podido apreciar tudo isto de uma outra forma.

Os dias que passei em Kanazawa foram uma mistura de alegrias, mas com um fundo de tristeza porque as saudades de casa fizeram sentir-se bastante. Fiz vários passeios com a minha amiga pela cidade. Visitei o Castelo, Kanazawajoo, que é uma reconstrução do antigo que lá existiu, feita há menos de meio-século. Visitei-o por dentro e pude admirar a construção tipicamente Japonesa em madeira - em que nenhum ferro é usado (nem pregos, parafusos ou outros - a madeira tem cortes que fazem encaixar cada peça noutra, e assim se vai montando um puzzle sólido e robusto, sem juntas). A vista do cimo do castelo era muito bonita e de um dos lados vê-se o mais importante parque da cidade, e um dos três parques mais famosos do Japão, o Kenrokuen. Dito no nome, este parque inclui as seis (roku) características consideradas como as mais belas num jardim (segundo a tradição zen, se não estou em erro), entre as quais se contam as pequenas dimensões, e o facto de ter muita diversidade de espécies e de espaços. O parque é lindíssimo, com um magnífico lago; inclui casas de chá junto a pequenas quedas de água, e uma estátua imponente do (segundo reza a lenda) primeiro homem a habitar o Japão. Apesar do frio gélido, a neve não cobriu o parque durante a minha visita, e se bem que nevou quando o estava a visitar, não foi o suficiente para se acumular nas cordas que protegiam as árvores (e que se podem ver nas fotografias no clip abaixo). Tivemos ainda a oportunidade de fazer uma visita guiada ao Ninja Dera, ou pelo menos é assim que é conhecido o chamado Templo Ninja. Na verdade nada neste templo teve ligação com os clãs ninja, era simplesmente o templo em que o governador da cidade rezava, mas dadas as medidas extremas de segurança que inclui, ficou conhecido como tal. Em três andares o edifício conta interiormente com 7 camadas de divisões, isto porque por fora nenhum edifício podia ser mais alto do que três andares. Escadarias, entre as visíveis e as escondidas, contam-se cerca de 37, e segundo a lenda, existe um túnel que liga um poço interior ao Castelo da cidade (que fica ainda a uns bons quilómetros de distância). Escusado será dizer que adorei a visita!!!Ninjas, mistério, lendas antigas e toda aquela aura de secretismo deixou-me completamente entusiasmada, e por momentos lembrei-me de como ficara fascinada em pequena ao saber que o sítio da Vista Alegre tinha algumas lendas a ele associadas.

O dia 31 de Dezembro chegou, mas por estes lados tudo gira em torno da manhã do dia 1, e por isso, na noite da Passagem, eu, a minha amiga e a sua mãe fomos assistir a um concerto de música clássica - o kountodaun consaato, ou Count Down Concert. Foi muitíssimo interessante, tinham inclusivamente artistas convidados, estrangeiros e nacionais (tenores, violinistas, pianistas) e enfim, todo o repertório foi fantástico. No meio do espectáculo houve tempo para um jantar, que estava incluído no preço do bilhete (das ofertas - sushi, crepes doces, soba noodles ou sandwiches - podia escolher-se uma, mas o bar era aberto, assim como os "barris" de sake). Voltámos a entrar eram 23.40h, e alguns momentos antes da meia-noite entraram em palco todos os 10 convidados da festa, cada um com uma placa com um número. À medida que se fazia a contagem, o convidado baixava a placa, e no final apresentaram-nas viradas ao contrário, onde se podia ler omedetou gozaimasu (Muitas Felicidades, ou neste caso, Feliz Ano Novo, ainda que a expressão na manhã do dia 1 deva ser kotoshi omedetou gozaimasu). No regresso a casa, perto da uma da manhã a minha amiga ainda quis passar num templo para rezar pelo Ano Novo. Aparentemente a família dela costuma fazer mais do que uma visita, e escolhe o templo de acordo com o propósito do pedido. O templo em que parámos era especificamente para sorte nos estudos, isto porque ela se encontrava em véspera de ter exames de fim de curso. Infelizmente, ao vento e à chuva, naquela hora da manhã, centenas de pessoas faziam fila no templo para rezar, e por isso a visita foi adiada para o dia seguinte, sendo que o pai dela também foi, e aproveitaram para trocar a seta do altar de casa por uma com a placa do novo ano, o Ano da Vaca/Boi (Ushi designa ambos uma vez que as palavras não têm género, mas a tradução em Inglês é Ox, que corresponde ao masculino, ainda que os desenhos que vi em símbolos e cartões alusivos representasse o que me pareceu uma Vaca! Enfim, alguma confusão neste aspecto).

O dia 1 começou pelas 10 da manhã com um pequeno-almoço ao estilo brunch, como poderão ver nas fotografias, com muitas comidas deliciosas (cada qual com um significado de boa sorte e prosperidade para o ano) servidas no tradicional serviço de fibra preta e vermelha com acabamentos em kin paku (pelo que, segundo a minha amiga me explicou, a caixinha preta que podem ver custou, há 24 anos atrás, mais de 1000 euros, e foi a prenda de casamento dos pais da noiva). Não faltou o tradicional sake também ele com folha dourada dentro, servida nas tacinhas vermelhas. Era tradição por isso também provei, mas acho que não cheguei a engolir or pequenos flocos de ouro para me dar sorte. Depois destas comidinhas, e de já estarmos bem cheios, fomos visitar a família do lado paterno da minha amiga. Aí foi-nos servido novamente um almoço, desta vez muito tradicional, com sashimi (para minha grande preocupação - ainda bem que tinha comido antes! Claro que apresentei as minhas desculpas, e todos pareceram compreender). O sake foi sendo constantemente servido e a tarde foi passada em muitas conversas diferentes. Finalmente, ao cair da noite voltámos para casa, para um serão pacato, depois da visita ao templo.
No dia 2, o meu último dia completo lá, uma vez que regressei no dia 3 no autocarro nocturno, fomos jantar a casa da família do lado materno. Uma fotografia de todos os presentes pode ser vista no clip (faltava apenas a mãe da minha amiga porque, sendo enfermeira, só chegou quase no final do jantar). Nesse dia, de manhã, fomos com o pai da minha amiga visitar a parte antiga da cidade. Ruas de casas ao estilo tradicional fizeram lembrar os filmes que mostram os tempos de Japão feudal. Quase todas estas casas era salões de chá antigamente, agora foram convertidas em lojas de lembranças da cidade, em que a folha dourada marca presença, desde cartões até bolos cobertos com ela. De tarde, fomos as duas, visitar o museu de Arte do Séc. XXI recentemente aberto, e a experiência fez-me lembrar Serralves. As exposições contavam com trabalhos de artistas nacionais e internacionais e de todos eles o que dá mais que falar é a piscina que podem ver na fotografia. Trata-se de uma sala com um tecto formado por dois vidros, no meio do qual se encontra água, mais ou menos 10 cm de altura, mas quem vê por cima parece uma piscina cheia de água - o artista, se não estou em erro é Sul Americano, mas agora não consigo precisar. O jantar começou por volta das 17h, e foi com uma barriga a dar horas que todos nos sentámos a apreciar as belíssimas travessas que foram postas na mesa. No final do banquete a sobremesa foi europeia, com os nossos tradicionais Natas do Céu e Bilharacos, feitos por mim, e com gelados HaggenDasz. Foi um serão fantástico, só tive pena de não conseguir falar mais Japonês, mas mesmo compreender era difícil dado que em Kanazawa se fala com um sotaque diferente do padrão. Antes de nos virmos embora ainda jogámos um jogo tradicional Japonês, em que uma pessoa de olhos vendados tenta construir um rosto colocando nos locais a que pertences os olhos, boca, nariz, orelhas e sobrancelhas. Na foto quem está a jogar é a minha amiga, mas quer eu, quer o primo dela de 9 anos também tivemos a nossa chance, e no final, até posso dizer que não me correu assim tão mal.

O dia da partida foi passado fora de casa, pela zona de lojas da cidade. Acompanhadas do primo da minha amiga que queria gastar o seu dinheiro da Passagem de Ano (é tradição que os mais novos recebam dinheiro de todas as pessoas da família - agora já percebem porque é que é bom ter famílias pequenas aqui por estes lados!!!), fomos vendo as lojas, e ainda acabámos por comprar alguns doces.
Por volta das 22h chegou o momento de dizer adeus, e até uma outra oportunidade. Eu e a minha amiga apanhámos o autocarro que, durante toda a noite, nos trouxe de volta a Tóquio. Chegámos por volta das 7 da manhã, cansadas e com o pensamento já nas aulas que começariam novamente no dia depois do seguinte. E assim terminou a época das festas de fim de ano. Espero que tenha sido interessante ler o que acabo de escrever, ainda que só possa garantir que não vos transmitem nem uma ínfima parte de tudo o que vivi, experimentei e passei aqui por estes lados, mas contra isso nada mais posso fazer.