sexta-feira, 10 de abril de 2009

Histórias recentes

Pois, tenho de aproveitar enquanto o tempo assim o permite. Cá estou de novo para contar mais coisas sobre a minha experiência no Japão. As aulas começam na próxima segunda-feira, 13 de Abril, depois de dois meses de férias que não foram exactamente o que eu tinha em mente.
Tive demasiado tempo de férias, e nem o part-time que continuou durante todo o tempo foi suficiente para evitar que as aulas me fizessem falta. Sim, eu sei, sou estranha, mas não o consigo evitar! Agora estou de regresso às aulas, o tempo está melhor, a Primavera está aí em força e eu estou a ficar muito mais animada.
Durante as férias, continuei a dar as aulas de Inglês, o meu part-time, mas de todos os planos de leituras, e viagens e passeios e experiências, infelizmente não consegui concretizar muitos. Isso deixa-me um pouco triste, mas a verdade é que eu penso sempre em fazer um milhão de coisas e esqueço-me de que o tempo é limitado e de que só tenho um corpo, por isso já devia saber que era impossível fazer tudo. Mas ainda assim consegui fazer algumas coisas.
Durante as férias aproveitei para ler alguns livros interessantes, Huxley's Brave New World, que já queria ler há algum tempo, Banana Yoshimoto, que andava a tentar ler já desde antes de vir para o Japão, e Never Ending Story, de Michael Ende. Todos eles foram leituras agradáveis, tenho pena de não ter conseguido ler outros que também me despertam interesse, mas as leituras necessárias para a minha pesquisa também me ocupam algum tempo.
De passeios e viagens, ainda que não tendo sido muitos, consegui ir visitar a Disneyland, fui uma semana para a ilha Shikoku, uma das quatro maiores do Japão, e recentemente visitei alguns parques em Tóquio (Oji e Tatsumi) e o Monte Takao.
A semana que passei em Shikoku talvez não se encaixe bem na categoria de passeio, já que foi o Campo de treino de Primavera de Shorinji Kempo. Os meus dias eram passados entre os treinos na honzan, desde as 8h da manhã até às 8h da noite, e a pensão onde ficámos instalados. Estar lá foi uma experiência muito positiva, no que diz respeito ao treino, mas muito negativa também, no que diz respeito às instalações onde ficámos. Shikoku parece um sítio muito agradável, mas o regime militarista do treino não deixou margem para visitar e conhecê-la melhor, se bem que acho que isso foi uma escolha dos membros do nosso clube - isto porque o treino encerrava às 17h, e enquanto as demais universidades voltavam para as pensões e iam provavelmente passear e socializar, nós ficávamos mais duas horas e meia a treinar! Claro que isso foi bom para o desenvolvimento das nossas capacidades, mas sendo o único grupo que incluía estrangeiros, teria sido agradável os nossos sempai terem-se lembrado de fazer algumas escolhas diferentes.
A pensão, que realmente se tornou insuportável para mim, era uma pensão tipicamente Japonesa, com quartos de tatami, muito bonitos de verdade, o que até aqui estava óptimo. Contudo, ficámos 12 raparigas num dos três quartos disponíveis, que devia ter cerca de 22 metros quadrados, se tanto, contando no total só com uma casa de banho e um chuveiro. Poderão imaginar que, com cerca de 25 raparigas no total, a luta de manhã e à noite era muita. Se a isto se acrescentar o pormenor de que no Japão se encara o banho como uma altura de purificação e relaxamento, não estranhei, mas desesperei, ao constatar que as colegas Japonesas tendiam a demorar normalmente uma média de 20 minutos a tomar banho, mesmo a tentar despachar-se. Não foi uma experiência muito satisfatória. Houve dias em que às 2 da manhã ainda não tínhamos tomado todas banho, um completo desastre. Como é que uma pensão com estas características permanece em funcionamento é que eu não percebo, mas enfim, em todo o lado encontramos situações que nos desorientam.
À parte desta experiência menos positiva na pensão, os dias passados na honzan eram espectaculares, sobretudo porque os treinos com as pessoas do mesmo nível que nós permitiram-nos ver o quanto evoluímos neste semestre de aprendizagem, e também porque todos os sensei que nos treinaram eram pessoas fantásticas, que explicavam tudo muito bem, demonstrando tudo em pormenor, e mandando imensas piadas pelo meio.
Espero conseguir voltar a Shikoku desta vez como turista e com alojamento escrupulosamente escolhido por mim, para conseguir ver como é. Para já, deixo um vídeo com as fotos de lá, desta vez um vídeo com uma surpresa.
Espero que gostem!

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Abril, novidades mil!

Estou de volta, e com mais histórias para contar, espero que gostem desta!
Rumo a uma terra de Titãs. Assim foi a minha jornada para visitar o Monte Fuji, ou como dizem os Japoneses, Fujisan. Começou um sábado de Dezembro bem cedinho. Fiquei de me encontrar com a minha amiga MT em Shinjuku, no ponto de partida dos autocarros da Linha Keio. Depois de nos encontrarmos e de nos instalarmos no autocarro esperavam-nos cerca de três horas de viagem rumo à Prefeitura de Yamanashi (ou Yamanashiken, em Japonês). Estava tão cansada nessa altura que mal o autocarro arrancou não consegui evitar adormecer. Mas em viagens não consigo permanecer a dormir por muito tempo, e por isso fui acordando algumas vezes. Da primeira vez que acordei pensei que ainda estava a dormir. A paisagem rasgada por arranha-céus e florestas de cimento e betão tinha dado lugar a um zona montanhosa espectacular, em que nas encostas das montanhas se eriçavam árvores despidas, e levemente salpicadas de pontinhos brancos, flocos de neve. As montanhas retorcidas mais pareciam os membros gigantes de Titãs que ali tivessem adormecido, e cuja pele se tivesse tornado rocha sólida. O sol nascia e os raios de sol incidiam sobre os pequenos flocos de neve fazendo com que brilhassem nos ramos despidos das árvores, formando quase árvores de Natal naturalmente enfeitadas. Fui batalhando contra o sono, para poder apreciar a paisagem ainda mais, e ver os vales por onde corriam os rios, ondulando nos seus percursos entre as fendas da montanha e as casas e os campos, agora sem culturas, das planícies, mas nem sempre ganhei esta luta.
Era quase meio-dia quando chegámos ao nosso destino, esperava-nos lá a Y., uma amiga da MT que o ano passado a visitou em Portugal, com a irmã N., altura em que nos conhecemos e passámos alguns dias interessantes a passear em Lisboa. Fomos até casa dela, onde nos esperava a N., e juntas comemos uma comida tradicional Japonesa Takoyaki,que são bolas de massa com polvo por dentro, feitas num assador especial. Que delícia!!! Comemos que nos consolámos, e aproveitámos para pôr a conversa em dia. Depois do almoço, a Y. conduziu-nos, à MT e a mim, uma vez que a N. não nos pôde acompanhar, até Kawaguchiko,um dos cinco lagos que circunda o Mt. Fuji. Mais uma hora de caminho, pelo meio das montanhas magestosas e em direcção ao sol que felizmente brilhava no horizonte.
A primeira paragem foi junto do lago, na encosta de uma montanha. Aí apanhámos um teleférico até ao topo onde nos esperava algo de fazer cortar a respiração. Pelo caminho até lá aprendi uma história tradicional, a do KachiKachi, a história de um pequeno animal da floresta que é apanhado por um lenhador para ser comido, acaba por matar ou magoar (consoante a versão) a esposa dele, e sofre uma série de vinganças cruéis de um coelho amigo do lenhador, morrendo no final. Uma das mais famosas versões desta história, ainda que fugindo ao enredo inicial foi contada pelo famoso escritor Japonês Dazai, e em inglês o título deste conto é Crackling Mountain, que tive a oportunidade de ler. Chegámos ao topo, subimos uns pequenos degraus de pedra, e oh, no horizonte o cume imponente do Mt. Fuji. Tão perto, coberto de neve e com o sol a incidir sobre ele, é mesmo uma paisagem lindíssima. Ainda estivemos algum tempo no miradouro a tirar algumas fotos mas depois seguimos caminho.
A paragem seguinte foi uma gruta gelada, em que quase tivémos de rastejar para conseguir passar em algumas partes. Depois de uma das últimas explosões do Mt. Fuji – lembrem-se que é um vulcão ainda no activo! – a lava infiltrou-se em fendas na montanha e desceu até cavernas nas profundezas do solo, formando grutas com estalactites e estalagmites. Infelizmente tirar fotos era impossível lá dentro, dadas as condições de luz e humidade, mas posso assegurar que valeu a pena, apesar das temperaturas negativas e o caminho irregular, apertado e escorregadio (melhor do que a casa assombrada na Feira de Março, podem ter a certeza).
Demos por encerrado o passeio e fomos para o Hotel. Fujiya, uma cadeia de hotéis em redor do Mt. Fuji foi onde ficámos. O nosso quarto era um típico quarto Japonês, com chão em tatami, amplo, onde no meio se encontrava uma mesa baixa com quatro cadeiras sem pés, tradicionais. Da janela, uma espectacular vista para o Monte. O jantar foi Europeu, num restaurante Francês no hotel, parte do pacote da estadia, mas antes de seguirmos para o restaurante, houve tempo para experimentar uma coisa nova: onsen, os banhos públicos. É uma tradição enorme no Japão ir aos banhos públicos, em que existe uma parte interior com chuveiros baixos, uma grande piscina onde as pessoas entram depois de bem lavadas, e por vezes, como neste caso, uma piscina aquecida exterior a dar para um jardim fechado. Tradicionalmente as onsen eram naturais, eram termas, lagos naturais de água aquecida pela actividade vulcânica vinda do interior da terra, que eram normalmente divididas ao meio por uma parede feita de canas de bambu, separando a parte de banhos de homens e mulheres. No interior do Japão existem algumas mistas, mas nesses o uso do fato-de-banho é opcional, sim, porque numa onsen é normalmente proíbida qualquer peça de roupa. As meninas foram-me explicando passo-a-passo o que fazer. Começámos por entrar numa sala de vestir com alguns cestinhos de verga. Lá despimo-nos e depositámos todas as nossas coisas nesses cestinhos. A partir daqui só se pode entrar na zona de banhos com uma toalha estreita que se coloca (nas mulheres)ao comprido em frente do corpo, desde o peito até ao meio da coxa. Entramos e dirigimo-nos a um dos chuveiros com banquinho em frente. Aí usamos a toalha como esponja de banho, e lavamo-nos repetidamente. O hotel contava no interior com uma piscina e Jacuzzi, então fomos primeiro a este, e depois seguimos para a piscina de fora. A água nestas piscinas é muito mais quente do que o normal, por isso convém sair de dentro da piscina e sentar-se na beira por algum tempo, para que o corpo recupere a temperatura normal. Pensei que me ia sentir muito embarassada, mas depois de lá estar dentro, uma pessoa abstrai-se, e a experiência foi tão boa que repetimos depois do jantar! A experiência de onsen é vista como um ritual que aproxima as pessoas, e normalmente inclui partes de convívio com comida e bebida depois dos banhos. Foi uma boa experiência. Da segunda vez, como iriamos dormir depois, no final voltámos à sala inicial onde vestimos os nossos yukata (kimonos leves de dormir, ou para usar em dias quentes de Verão) providenciados pelo hotel.
Chegámos ao quarto, onde a mesa havia sido desviada e três futons (a cama tradicional, são dois acolchoados um por cima do outro) haviam sido dispostos lado-a-lado no chão. Fomos dormir, e de manhã eu acordei às 6 menos um quarto para fotografar o nascer do sol a incidir sobre o Mt. Fuji. Foi dificil mas valeu bem a pena. Quando as meninas acordaram começámos a arranjar-nos para ir tomar o pequeno-almoço, um requintado buffet self-service, para depois fazer o check-out do hotel. Houve ainda tempo para um passeio a pé nas redondezas, até ao Lago Kawaguchiko, onde tirámos mais algumas fotografias. Depois foi seguir viagem com uma paragem pelo caminho. Uma aldeia de trabalhos manuais! Fomos fazer esferas de vidro. Foi bastante difícil e quase não conseguíamos porque é dificil coordenar os movimentos com a temperatura e tudo mais, mas no final lá conseguimos fazer uns porta-chaves engraçados.
Almoçámos num restaurante típico lá perto, famoso por ter sido o primeiro a fazer um prato tradicional com udon, uma massa japonesa mais grossa e redonda que tagliatelle. Era uma espécie de sopa de legumes com massa, e estava bem boa, mas as taças eram enormes!!! Depois comprámos algumas lembranças e voltámos para a casa da Y., onde tomámos chá com os pais dela e conversámos, até serem horas do autocarro de volta a Tóquio. Eram quase 7 da noite quando eu e a MT chegámos a Shinjuku, mas foi um fim-de-semana inesquecível. Meninas, muito obrigada por esta experiência, em que não só aprendi imenso sobre a cultura Japonesa, como ainda tive oportunidade para treinar o meu Japonês, que permanece algo básico!
Uma aventura em terras de Titãs, realmente uma óptima experiência, espero que tenham gostado.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Passeios em Tóquio

Demorou, mas finalmente chegou, o dia em que vou deixar-vos com mais novidades daqui destas partes do globo. Nem em férias tive muito descanso, e confesso que o meu cansaço nem foi tanto físico.
O tempo que passa muda-nos e vai-se tornando diferente consoante a nossa rotina. Estar de férias deu-me tempo para pensar, e os meus pensamentos nem sempre foram alegres, nem sempre estiveram aqui em Tóquio, e as saudades de Portugal apertaram. Mas já chegou Abril, e as aulas vão recomeçar, a Primavera está a chegar em força e as árvores começam a cobrir-se de flores. O meu espírito está a começar a ficar mais animado, e até as temperaturas estão a ficar mais agradáveis e a contribuir para que me sinta melhor.
Ontem, para aproveitar o bom tempo fui até ao Monte Takao, com 600 m de altitude, mas essa é uma história que quero contar com imagens, e por isso limito-me a dizer que foi óptimo estar em contacto directo com a Natureza, a caminhar pelo meio da floresta, ouvir o vento, as folhas, os pássaros. Bolas como sinto falta desse tipo de ambiente. Um dia, meio dia na verdade bastou para revitalizar o meu espírito, ainda que o corpo se esteja hoje a queixar da longa e dura caminhada.
Desta vez tenho poucas palavras e muitas imagens para deixar, o que espero ser do vosso agrado.
Primeiro, deixo um vídeo com fotografias que fui tirando quando ainda morava na residência, em passeios nos arredores. O centro de Tóquio é algo bem diferente do que aqui se poderá ver, uma vez que estas são as áreas suburbanas da Capital, mas tudo dá uma ideia de como é a vida aqui.

Depois, deixo um outro vídeo, este bem longo, da minha visita à Disneyland Tóquio, com os meus amigos internacionais. As fotografias são minhas e de uma das minhas amigas para que possam ver ainda mais!

Espero que gostem destas pequenas recordações em forma de imagem. Aproveitei para incluir também algumas das músicas que agora ouço por estes lados, algumas recentes outras nem tanto, umas com maior outras com menor qualidade - afinal, o fenómeno da música é semelhante em qualquer parte do globo, mas isto é só uma pequena amostra de alguns artistas aqui no Japão!

Volto em breve, com mais novidades para contar e mostrar.