quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Nova aventura, viver sozinha!


Ano Novo, Nova aventura no Japão...


Depois de três meses a viver na residência, decidi que viver sozinha me traria muitas vantagens. Não é que a minha residência sej má, porque a DK House Warabi, tem umas instalações muito boas, quando comparada com muitas outras que tenho visto por estes lados. Contudo as desvantagens fazem-se sentir: a distância à Universidade – sim, a começar pelos 15 minutos a pé até chegar à estação de comboio, para depois apanhar três comboios das linhas mais complicadas de Tóquio! Só de pensar na hora que levo para chegar às e das aulas, e pior, pela dificuldade que é andar naqueles comboios apinhados e no meio de todas as confusões...Uff, não é fácil! – para além da distância, o facto de ser uma residência muito grande, em que não existem muitas divisões, fazem com que tenhamos de partilhar várias áreas com muitas pessoas – assim, por corredor (com cerca de 40 pessoas) partilhamos as casas de banho, e as máquinas de lavar e secar; para além disso os chuveiros e banhos são apenas dois, um para rapazes e outro para raparigas, para toda a residência, pelo que os partilhamos com todas as pessoas do mesmo sexo (calculo que com cerca de 50 raparigas, no meu caso), e finalmente, a cozinha e a sala comum, que são partilhadas por absolutamente toda a gente (a residência tem capacidade para alojar cerca de 120 pessoas!). Enfim, isto é uma realidade muito diferente da que tive em Inglaterra nas residências da Universidade, em que também dividia algumas divisões com os meus colegas de corredor (mas eramos apenas sete pessoas, e por isso era quase como se fossemos uma família! Lá a minha experiência foi mesmo algo de muito positivo, mas aqui, nem dá para conhecer todas as pessoas que vivem na residência, até porque há sempre pessoas a chegar e a partir. Agora vejo ser a minha vez, de partir.
Arrendar uma casa no Japão é uma das coisas mais difíceis com que já contactei. Enfim, acho que algo sério envolve sempre muita burocracia, mas aqui é de loucos! Comecei por procurar nas agências que alugam a estrangeiros, sim, porque só o facto de sermos estrangeiros nos fecha as portas de muitas agências, e o facto de não falarmos a língua ainda piora as coisas. Nestas agências de estrangeiros, como Sakura House ou Oakridge Houses, podem encontrar-se muitas casas, a maior parte delas conta já com alguma mobília, e têm vantagens como: não necessitar de um fiador (ou garantor) nem exigirem ‘key money’ (que basicamente costuma ser o equivalente a alguns meses de renda que são uma oferta ao senhorio – ou seja, ao contrário do depósito, este dinheiro nunca mais o vemos!). Contudo, dadas as vantagens, tinha de ter algumas contrapartidas. Normalmente a renda mensal é muito mais elevada do que nas agências nacionais. E depois de visitar um colega que vive num apartamento da Sakura Houses, concluí que as fotos do site não correspondem exactamente ao que depois se encontra! Por isso, tudo o que posso aconselhar, a quem procura um novo lugar para morar, é que tenham muita atenção a tudo antes de se comprometerem.
Como estava a ser muito difícil encontrar um lugar para mim, pedi ajuda a todas as minhas amigas aqui no Japão. E através da minha sempre próxima MM, e da sua mãe, consegui encontrar o sítio para onde me mudarei brevemente, e que ainda por cima fica perto da casa dela. Através de uma amiga da família, que tem uma agência imobiliária, encontrei um apartamento bem pequenino (apenas 16 metros quadrados), mas que se encontra num local calmo e bonito, e que é um apartamento completo, ou seja, conto com um quarto, uma pequena cozinha e casa de banho completa, e ainda uma pequena varanda. A primeira vez que o fui ver, depois de a MM já me ter dito o preço da renda e assim, assustei-me. Entrei num apartamento completamente vazio. Nada mais que as paredes. Nem cama, nem uma só estante, nem frigorífico, ou bico de fogão. Nada! Depois me lembrei que isto é normal. Normalmente é assim, mas eu só pensava em quanto teria de gastar para me conseguir mudar. Novamente, pude contar com uma grande ajuda da minha amiga, cuja família se empenhou a arranjar tudo o que é essencial numa casa. Contando com as coisas deixadas por familiares que haviam falecido e de coisas que as famílias já não usam, o meu apartamento conta agora com tudo o que preciso, e muito mais, para viver sozinha, confortavelmente, e por isso dia 10 vai ser o dia de deixar definitivamente a DK House. De lá conservo as boas amizades que fiz, e com quem vou continuar a conviver, nas aulas e nos meus tempos livres! Vou começar uma nova fase aqui por estes lados. Viver sozinha! Mas a verdade é que sinto que nunca vou estar realmente sozinha, até porque vou estar perto da MM, e com ela, e com a familia dela a quem devo tanto, e a quem agradeço muitíssimo toda a ajuda que me têm dado, vou de certo aprender mais sobre como é viver no Japão.

Devo desculpar-me muitíssimo com todos quantos têm visitado este blog. Esta tem sido uma das razões pelas quais tenho andado ainda mais atarefada ultimamente, e que me tem impedido de vos dar tantas notícias como gostaria. Esta é uma época peculiar, a primeira vez que passo o Natal e a Passagem de Ano longe da minha família e amigos próximos, nunca pensei que me afectaria da forma como o estou a sentir... Este pequeno vazio, que nem com a companhia de novas amizades, nem com novas viagens e experiências se preenche! Mas enfim, cá vamos continuando a viagem pelo país do Sol Nascente. A todos quantos me visitarem aqui, e apesar de atrasadita, deixo os meus mais sinceros votos de um Feliz Natal e umas entradas em grande no ano de 2009 que se aproxima, e que segundo o horóscopo oriental será o ano do Boi/Vaca (uma vez que eles não têm divisão em género). Infelizmente o meu ano chega agora ao fim, está na hora de dizer adeus ao Ano do Rato, e de dar as boas-vindas ao próximo. Espero que o próximo ano me traga mais alegrias que este, e o mesmo desejo para todos. Olhando para trás não posso estar senão agradecida! Tenho muito porque agradecer: a oportunidade de trabalhar com pessoas fantásticas, em todas as actividades em que participei; a bolsa de estudos que me trouxe ao país que desde há muito sonhava poder conhecer, e que me dá a oportunidade de continuar os meus estudos, e a minha investigação; a oportunidade de conhecer novos mundos, culturas e línguas; e sobretudo, a oportunidade de travar novas amizades e conhecer pessoas que se têm vindo a tornar extremamente importantes. Por tudo isto estou muito grata ao ano de 2008, penso que, devagarinho, este ano me levou mais perto de descobrir quem sou e o que quero para o meu futuro. Que 2009 me ajude a continuar esta viagem, e que ajude todos a alcançar o que desejam,



Boas Festas a todos



(fonte:ttp://www.sonoo.com.br/mike.html)

P.S.: Já agora para os curiosos, aqui fica esta imagem onde podem ver todos os signos do horóscopo Japonês (e Chinês, mas este tem mais dois signos), e para saberem qual o vosso signo basta seguir a roda no sentido dos ponteiros do relógio, e saber que cada signo corresponde a um ano (mais ou menos, isto não é exacto e pode não funcionar para quem nasce em início de Janeiro), e que em 1984, assim como em 2008, foi o ano do Rato, por isso basta contar para trás e para a frente!

sábado, 13 de dezembro de 2008

A Epopeia de um dia...

Em primeiro lugar tenho de me desculpar por passar tanto tempo sem adicionar novas entradas, mas os meus dias andam muito curtos. Alguém devia tomar a iniciativa de acrescentar algumas horas às 24 já existentes - se bem que o mais provável era que eu acabasse por as ocupar igualmente. Não há volta a dar-lhe, quanto mais tempo tenho, mais necessito de o ocupar para me sentir realizada, por isso acho que devo reconhecer-me como 'Hello, my name is Vera, and I am a workaholic!' (sim, sou, mas desde que me sinta bem, acho que não devo mudar! Dito como uma verdadeira viciada).
Hoje é um dia especial para mim, pois como muitos de vocês sabem, fico hoje um aninho mais velha! Achei por isso que seria bom dedicar-me um pouco a reflectir sobre o que tem mudado na minha vida com o passar do tempo. A verdade é que quando penso no que sou no dia-a-dia nem dou pela passagem do tempo. A maior parte das vezes não me sinto mais velha que um teenager. Mas depois vêm as reuniões com professores sobre as minhas pesquisas, as inscrições em conferências e as tentativas de publicação, e de repente é como se me visse outra pessoa, muito mais velha. E assim, vou balançando entre idades, sem conseguir definir-me pela minha idade que aparece no BI.
Tanta coisa tem mudado, e tem-me feito mudar nos últimos anos. Licenciei-me, entrei para o mercado de trabalho de professores em Portugal (palavras para quê, todos conhecem a situação, alguns em primeira mão), dei aulas numa primária (algo que achava que não iria conseguir, e a verdade é que acabei por reconhecer o quão positiva essa experiência foi para mim), trabalhei part-time na Decathlon (que se tornou numa das melhores experiências que podia ter tido, em que descobri muito sobre mim e aquilo de que sou capaz, e em que fiz amizades extremamente importantes e que espero manter toda a vida!). Depois de tudo isto, embarquei na minha aventura de um doutoramento sem parte curricular, e andei por vezes a navegar sem rumo, até me decidir a contornar o Cabo das Tormentas e enfrentar o meu mais formidável Adamastor. Vim para o Japão, sem grandes conhecimentos da Língua Japonesa! E desde então a minha vida tornou-se uma saga de aventuras que nem sempre se desenrolam da melhor forma.
Neste momento estou a estudar na Universidade Sophia (ou Jochi Daigaku), que é uma Universidade privada católica em Tóquio. Sou aluna de doutoramento, e por isso conduzo sozinha a minha pesquisa sobre a o Ensino da Língua Portuguesa como Língua Estrangeira aqui. Mas, simultaneamente, e por causa da Bolsa de estudos que me foi concedida pela JASSO, sou também aluna de Língua Japonesa (como aluna não licenciada), e aluna do Mestrado em TESOL (Ensino de Inglês para falantes de outras línguas) . No total as minhas cadeiras são quatro, o Japonês (que me dá mais trabalho que todas as outras juntas, mais a minha investigação!), e as três de mestrado: Intercultural Interaction, Affective Factors in TESOL, e Action Research, todas elas em Inglês. Ando normalmente a correr entre os trabalhos de casa e os milhões de testes semanais que tenho de Japonês e os muitos capítulos de leitura obrigatória para as demais cadeiras. Por um momento senti-me frustrada, e pensei que tinha feito mal ter escolhido todas estas cadeiras, mas agora estou a conseguir rentabilizar tudo o que aprendo para a minha pesquisa de doutoramento, e tenho aprendido muito sobre quem eu sou, enquanto pessoa e enquanto professora, nestas cadeiras, com os meus professores e com os meus colegas, todos eles tão distintos de mim.
Para além da minha vida académica, consegui finalmente, depois de algum esforço, ser contratada por uma escola de Línguas privada (aparentemente muito famosa aqui por estes lados), onde me encontro a dar aulas de Inglês. Neste momento tenho dois alunos no Success course, às quartas na escola sede da empresa. Para além desses tenho agora mais uma aluna, mas desta vez nas aulas de café - que são aulas mais casuais, que se combinam em sítios públicos, e mais centradas em conversação.
E finalmente, como não podia deixar de ser, estou numa actividade extra-curricular que é o Shorinji Kempo, que estou a adorar, ainda que as nódoas negras se comecem a acumular!
Uff, parece muito? Então imaginem que diariamente me levanto pelas 6 da manhã. Saio de casa pelas 7.30 para poder chegar a horas para a minha aula das 9.15. Vou normalmente ao Shorinji na hora de almoço, desde 12.30 até às 13.30. Mesmo que não tenha aulas, fico na Universidade a estudar e a fazer os meus trabalhos para a semana (algo que consigo normalmente à justa). chego normalmente a casa por volta das 19h, excepto às quartas, quintas e sábados, em que normalmente só chego por volta das 22h ou mais. Ao Domingo dou a minha aula de café! Entretanto andei em correrias entre departamentos, em comboios apinhados, no meio de multidões de pessoas a correr de um lado para o outro. Enfim, as voltas e viravoltas diárias de alguém que precisa aprender a parar um pouco.
Olhando para trás, penso em tantas outras coisas que gostaria, poderia, deveria ter feito, e por vezes isso entristece-me. Penso no "What if", e os 'ses' por vezes fazem-nos arrepender e sentir menos bem em relação a muita coisa, mas sabem que mais, eu considero que todas as nossas escolhas são as acertadas, porque podemos aprender com todos elas, ainda mais com as menos boas!.
Se morresse hoje (o que seria irónico uma vez que as datas de nascimento e de morte seriam uma e a mesma!), a verdade é que não me arrependo de quase nada. Tenho uma família e amigos que me são muito próximos, e com quem posso sempre contar. Pesssoas que me adoram e que eu adoro também. Vivo experiências diferentes que me fazem crescer enquanto pessoa, e batalho pelos meus sonhos na esperança de um dia poder olhar para o meu percurso de vida com a satisfação de ter vivido e alcançado aquilo que desejava. Cometi imensos erros, e já mandei com a cabeça na parede algumas vezes, mas aprendi com todas essas experiências. Já vivi períodos de grande ansiedade, tristeza, incerteza, solidão, enfim, de tudo, mas com esses aprendi muito mais do que todos aqueles que correram sobre rodas. E acima de tudo, sinto-me completamente capaz de dizer que sou muito sortuda porque, pelo menos, fiz as coisas "à minha maneira".
Deixo aqui um pequeno vídeo com algumas das coisas que mais me fazem lembrar o quão boas são as minhas lembranças de Portugal, espero que gostem. Pode não parecer, pela minha falta de notícias, mas a verdade é que estão sempre no meu pensamento, e tenho imensas saudades de todos.