Vivemos num mundo em que as aparências comandam as acções das pessoas, que tudo fazem a troco de algo... é mundo do vácuo no espírito das pessoas que vivem de ilusões sem nada por onde se lhes pegue para além de uma imagem ilusória que não tardará a desavanecer-se em fumo deixando a sua essência vazia a descoberto. Quando encaro este tipo de mundo sinto-me perder o ar, e perder a esperança no amanhã. Que tipo de esperança pode vir de uma situção tão cinzenta de pessoas que morrem de fome ao lado das casas multimilionárias de novos ricos que esbanjam milhões em pares de calças? O problema é que o grande papão moderno da nossa sociedade, o consumismo desenfreado que leva famílias ao limiar da pobreza extrema com o sobreindividamento, começa a passar as suas patas até por mim, e eu sinto-as caminhar, peludas, pela minha pele. Produtos electrónicos que ficam ultrapassados no dia seguinte, mais serviços que ninguém usa no tempo que nem tem, mais bugigangas para enfeitar um sítio onde mal temos tempo de nos deitar. Uma vida frenética de correrias e compras, e trabalho para no final ganhar mais dinheiro para poder correr mais, comprar mais e ter de trabalhar cada vez mais, numa espiral sem fim.
Mas ultimamente o meu mundo tem ficado um pouco mais brilhante, e tem recebido umas cores. Muita coisa tem acontecido nos últimos tempos, e penso que pode não ter sido muito mas se vir o meu interior como uma árvore, acho que cresci mais uns centímetros, e desnvolvi um ou dois raminhos. Decidi que não vou deixar os meus problemas aqui estragarem o meu sonho que sempre foi vir aqui. Decidi que vou voltar para Portugal com recordações bonitas do Japão, e agora tenho mais energia que nunca para as alcançar. Esta semana chegou ao Japão a primeira, de apenas duas, visitas vindas de Portugal. É alguém que me faz muito bem ter por perto, e juntas temos aproveitado para conversar e ver algumas coisas. É a ter de lhe explicar muitas coisas que para mim já se tornaram mais normais que percebo o quanto já me adaptei a esta vida. Nessas explicações revejo o caminho longo que percorri deste lado, e vejo o caminho que devo seguir de ora em diante. Vamos passear mais, e ter alguém de Portugal ao lado para partilhar pensamentos e pontos de vista fazia-me tanta falta.
Acabo de ficar muito contente por perceber que tenho a sorte de ter amigos que se destacam dos cinzentos mórbidos desta realidade em que vivemos. Pessoas que lutam por valores e ideais sem se deixar parar por nada. Que continuam a perseguir aquilo que buscam mesmo quando montanhas se atravessam nos seus caminhos. Uma dessas pessoas acaba de alcançar um reconhecimento - algo que quem a conhece, sobretudo alguém que a conhece, como eu, desde o infantário, já lho reconhece há muito muito tempo - público por uma grande causa pela qual tem batalhado muito. A TVI fez uma reportagem sobre esta causa, e poderão consultá-la no link abaixo:
Tinha 12 anos da primeira vez que me lembro de ter lido o poema que se encontra a seguir, mas claro que a canção interpretada por Manuel Freire já há muito que ouvira. Nas palavras imemoriais de António Gedeão muita coisa fez sentido na minha cabeça então ainda tão diferente. Cresci e mudei, mas a cada vez que leio e ouço estas palavras encontro mais um ponto, mais uma vírgula que me passara ao lado da última vez... Espero que vos diga algo, porque a mim fala bem fundo,
"Pedra Filosofal
Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alácre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorna de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956"
Eles não sabem que o sonho
É uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer,
como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso,
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos,
como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam,
como estas aves que gritam
em bebedeiras de azul.
eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho alácre e sedento,
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.
Eles não sabem que o sonho
é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel,
arco em ogiva, vitral,
pináculo de catedral,
contraponto, sinfonia,
máscara grega, magia,
que é retorna de alquimista,
mapa do mundo distante,
rosa-dos-ventos, Infante,
caravela quinhentista,
que é cabo da Boa Esperança,
ouro, canela, marfim,
florete de espadachim,
bastidor, passo de dança,
Colombina e Arlequim,
passarola voadora,
pára-raios, locomotiva,
barco de proa festiva,
alto-forno, geradora,
cisão do átomo, radar,
ultra-som, televisão,
desembarque em foguetão
na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.
In Movimento Perpétuo, 1956"
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