Dia 18 de Setembro, 6.20 da manhã em Portugal, na cidade do Porto, no aeroporto Francisco Sá Carneiro. A minha aventura começou aqui. Neste exacto momento, em que todo o céu era um imenso mar de negro que lentamente se alojou no meu coração, que foi ficando cada vez mais pesado à medida que o avião ganhava velocidade para descolar, começou a minha viagem. Muito cansada física e emocionalmente, acabei por adormecer e a viagem até Frankfurt, onde fiz escala, foi-se desenrolando sucessivamente entre acordar e adormecer, sempre em sobressalto, e sempre com um aperto grande na garganta.
Estava a rumar de encontro ao meu sonho de há algum tempo, então, porque é que havia isto de custar tanto assim? Na verdade não consigo compreender toda esta emotividade. Quando parti rumo a Inglaterra fui tão descontraída que até me surpreendi. Mas Inglaterra é a um passinho de Portugal, e cinco meses não são um ano. O meu espírito não conseguiu encontrar a paz durante a viagem.
Em Frankfurt as coisas melhoraram um pouco. Comecei a consciencializar-me de que estava só, e que agora uma nova etapa me esperava. Durante as horas que passei no aeroporto senti o meu mundo pequenininho face àquela língua que não percebia minimanente. Nunca tive um grande interesse pela Língua Alemã, mas senti-me limitada dentro do meu mundo em que esta língua é imperceptível, e isso foi algo que me desagradou.
Novamente o embarque, desta vez para rumar ao outro lado do Mundo, literalmente. Mais ou menos 10 horas de viagem dentro de um avião para lá chegar. Nunca imaginara o quão exaustiva uma viagem assim seria. Na verdade tive alguma sorte. Perto de mim, e mais tarde ao meu lado (porque troquei de lugar com outra pessoa) sentou-se um rapaz da Suíça, o Matias. O Matias vive há três anos em Tóquio porque está cá a tirar o doutoramento em Design. Acabámos por começar a falar, porque partilhávamos o mesmo espaço livre para pôr as revistas, e assim acabou por ser uma viagem mais fácil porque viemos na conversa durante uma grande parte dela. É interessante como uma viagem assim pode levar-nos a travar amizades com pessoas com quem, provavelmente, nunca nos cruzaríamos. À escuridão da noite que atravessámos durante a maior parte da viagem sobrepôs-se a luz, e foi lá bem alto, acima das nuvens que eu, e o Matias que entrentanto acordara, vimos um nascer do sol que me vai ficar gravado na memória, para sempre. Conversar com o Matias foi sobretudo interessante por toda a informação que ele me pôde dar sobre Tóquio e o que significa viver nesta cidade, que só tem mais habitantes do que Portugal inteiro! Ele ajudou-me no aeroporto e por isso tenho imenso por que lhe estar grata.
Fiquei no aeroporto cerca de 30 minutos até chegar uma coordenadora de Sophia, e depois chegar também a Hitomi, a minha guia até à residência. Com a Hitomi apanhei o primeiro comboio em Tóquio, desde Narita até uma das estações do centro. À medida que o comboio avançava, voltava aquele aperto estranho, e eu senti-me a encolher progressivamente até ficar um ponto minúsculo na enorme cidade de Tóquio. Tudo isto só foi piorando até chegar à residência. O caminho até Saitama é muito longo. Mudámos três vezes de comboio, e o mar de pessoas (e não era nada como em hora de ponta!) era assustador. O facto de não conseguir reconhecer palavra ou caracter não ajudou a que me sentisse melhor, como é previsível.
Este primeiro dia foi mesmo um dia muito difícil e de emoções à flor da pele.
A Luz e a Escuridão abundaram ambas na minha viagem rumo ao sol nascente, mas as coisas vão lentamente encaminhando-se.
Já passou exactamente uma semana desde que aqui cheguei. O meu espírito está mais leve, as coisas estão a ficar mais fáceis, até porque estou rodeada de pessoas fantásticas com quem tenho travado amizade, e que ajudam a tornar mais curta a distância, e sobretudo mais leves as saudades de todos que deixei em Portugal.
As aulas começarão em breve, e todas as coisas a tratar têm sido uma escapatória aos pensamentos de tristeza ou de saudade que poderiam abundar por estes lados. Os reencontros com todas as minhas melhores amigas Japonesas que estudaram em Portugal têm sido fantásticos, e são como lufadas de ar fresco neste clima húmido e abafado. A Mari, a Jun, a Maiko, e também a Misato foram fantásticas comigo, e eu não consigo exprimir as saudades que tinha de estar com elas, sobretudo com as três primeiras que já não via há três anos. Também já tive oportunidade de reencontrar o Professor Mauro Neves, que será o meu orientador, e de conhecer o Professor Ono, de quem tanto apoio recebi, e de quem tanto já tinha ouvido falar.
A vida é estranha por vezes. Ficamos quando só gostaríamos de partir. Partimos quando gostaríamos de ficar. Enfim, as voltas que se dão nas nossas mentes nem sempre são fáceis de compreender, mas o tempo torna tudo mais fácil, ou pelo menos mais aceitável. Aqui começa a minha aventura oriental, e espero que este seja o caminho. Byatt escreveu sobre a necessidade que todos temos de ter um caminho nosso. O destino não é importante, mas a viagem que fazemos para o alcançar. Quero percorrer o meu e descobrir até onde me irá levar.
“You can only come to the morning through the shadows.” - J.R.R.Tolkien
5 comentários:
Bem...fiquei com uma vontade enorme de ir até tóquio...só para tentar que essas sensações mudassem para algo tipo "FOGO!!!estava tão bem aqui sozinha...desaparece!"...porque apesar de ter uma ideia do quanto deve de ser complicado estar desse lado...só quero que sintas o que isso tem de bom amor...
Tu sabes que isso foi um sonho tornado realidade...pensa que nem sempre temos essa oportunidade (",).
Lutaste muito por isso...agora é hora de tirar o máximo de proveito...tu ganhaste a batalha...este é o teu prémio...
Usufrui ao máximo dele...porque ainda não ganhaste a guerra...mas acredito que com a tua garra e força de vontade...isso também vai ser "a pice of cake!"...(é assim senhora professora?...só comecei o curso à 2 dias!!!) LOLOL...é verdade tenho a professora Sofia conheces? parece ser altamente bjitos
olá menina Vera. que garnde mistura de sentimentos... mas fico feliz porque estás feliz. mais um passo dado em rumo ao teu sonho. ainda tens muito pela frente mas nao desistas. o sonho comanda a vida...mas o sonho conretiza.se se fizermos algo para isso. e já que és uma previlegiada (sim pk nem todos alcançam os seus sonhos) aproveita tudo o que puderes para concretizares o sonho a 100%. agarra-te bem a esta opostunidade. sempre k tiveres momentos menos bons, lembra-te que há gente k torce para te ver feliz. ha kem torça para k consigas alcançar o k poucos conseguem - o sonho realizado. FORÇA. estarei sempre a teorcer por ti e lembrar-me-ei de ti no meu coraçao e também nas orações que farei a Deus.Com carinho. Sónia e que Deus te guarde e te anime (pois é, Ele interessa-se por ti). beijos
Aii Vera, ao ler estas coisas relembro os meus sentimentos, quando parti para um ano também noutro continente (muito diferente desse mas muito diferente deste Portugalzinho também) e percebo bem os tremores e sensação de migalinha, ao mesmo tempo de grandiosidade e empolgamento. Quando seguimos o nosso coração, de certeza que estamos no caminho certo. E caso não saibas já...(é um clochê, mas é a verdade) "o mais certo é geralmente também o mais dificil". Ok, não é fácil, mas sim é fantástico!!! A única sensação a combater é a solidão no meio de milhares de gente, essa sim é que tens de batalhar contra, lembrando-te dos sentimentos de todos os que pensam em ti e te desejam tudo de bom! Como eu! Vou manter-me sempre atenta aqui ao blog! Beijinhos e beijinhos da malta do ginásio que pergunta por ti e já tem saudades!
Olá professoraaa tudo bem?
Isso é que é escrever, adorei ler o texto, deu-me vontade de passar pelo mesmo e ir tambem pro Japão, quer dizer...eu já queria ir antes mas pronto.
Espero que corra tudo pelo melhor e eu virei cá regularmente para saber as ultimas novidades.
Beijinhos Grandes
Elin
olé Verinha
muito bem... um blog! o primeiro passo já está... agora é so contar as tuas aventuras pelas terras do oriente :D
Diverte-te ao máximo...
Beijocas
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