Nas férias de Primavera, depois de dois meses sem aulas, e com o novo ano lectivo a começar, resolvi escapar do betão de Tóquio e ir para um local mais natural. Decidi seguir a recomendação do meu guia de Tóquio e ir ao Monte Takao, de 600 metros de altitude, nos arredores de Tóquio, a mais ou menos 50 minutos de comboio, partindo de Shinjuku. Acordei cedo, preparei a mala com água e a máquina fotográfica e lá fui até Shinjuku. Lá saí pela saída Oeste (Nishi guchi) da movimentada linha JR (a principal linha de comboios do Japão) no andar -1, e segui para a esquerda, pelo Departamento comercial Odakyu, para chegar à entrada directa na linha Keio (privada). Com alguma ajuda do staff, que não falava muito Inglês, consegui comprar nas máquinas um bilhete de ida e volta(por mais ou menos 800 ienes) para Takaosanguchi, que leva mesmo ao início da subida do monte. Havia a possibilidade de comprar também um bilhete que ainda incluísse duas passagens ou no elevador (cablecar) ou numas cadeiras suspensas (chairway) que ficaria por cerca de 2000 ienes, mas eu estava decidida a fazer o percurso a pé por isso optei simplesmente pelo bilhete de comboio.
Ao chegar a Takaosanguchi, encontrei logo um mapa em Inglês, em que eram mostrados os sete caminhos disponíveis para atingir o topo. Depois de dar uma olhadela nas lojinhas de souvenirs, e comprar uns doces típicos em forma de folha de Momiji (duros como tudo, juro que podia ter partido um dente! Mas muito saborosos, não obstante) decidi ir pelo caminho nº1. Foi uma boa opção. Este caminho é formado por uma estrada de paralelo estreita – que sobe consideravelmente, até ficarmos sem saber se estamos a andar ou a subir escadas – em que passam carros por vezes, mas que é muito segura. Havia pessoas a subir e a descer, e eu fiquei encantada com a maneira afável com que me cumprimentavam, alguns mesmo em Inglês.
A subida era mesma dura, e foi com bastante persistência que lá fui indo. A estimativa para este percurso era de cerca de 120 minutos, mas fazendo paragens a meio do percurso para comer qualquer coisa, tirar fotos e visitar o Santuário Shinto Yakuo-in, eu acabei por demorar quase três horas. A meio do percurso, que é o fim da linha quer para as cadeiras suspensas, quer para o elevador, encontra-se um pequeno complexo de restaurantes e lojinhas, onde eu aproveitei para comer um doce quente com feijão vermelho (azuki) em forma de folha de Momiji, e tirar algumas fotografias à paisagem. Logo depois, seguindo o percurso, está a reserva de macacos, que pode ser visitada mediante pagamento de entrada (500 ienes) mas que eu não visitei, e pouco depois a entrada para o santuário, assinalada pela característica porta de madeira da entrada.
O Santuário encontra-se espalhado nas encontas da montanha, e os seus caminhos são por vezes labirínticos, mas vale bem a pena visitá-lo. As muitas escadas são um desafio para as pernas cansadas de quem já subiu mais de 300 metros, mas o esplendor da construção é uma boa recompensa. Apesar do restante percurso estar bem assinalado, uma vez no templo as indicações para o topo do Takaosan escasseiam, e eu senti que estava um pouco perdida. Valeu-me a simpatia de várias pessoas que vinha a descer, e que ao verem o meu ar confuso a olhar para o mapa me encorajaram dizendo “Vá, só mais um esforço, faltam cerca de 10 minutos naquela direcção”. Fiquei-lhes extremamente agradecida, e renovei a minha visão da simpatia Japonesa que é facilmente perdida no rebuliço da capital.
Cheguei finalmente ao topo. Foi com algum cansaço que me pus a apreciar uma bela vista de montanhas cobertas de árvores ainda semi-despidas, porque apesar de Março estar já a chegar ao fim, naquela zona o frio ainda se fazia sentir, e por isso nem as cerejeiras haviam florido ainda. Foi pena o céu estar nublado, não consegui nem um vislumbre o Monte Fuji, apesar do mapa de montanhas que está disponível para podermos identificar cada uma na paisagem que vemos lá em cima. Mas mesmo sem o Monte Fuji, foi com um sentimento de dever cumprido que comecei a minha descida.
Uma vez que havia sete trilhos diferentes, ainda que nem todos comecem e acabem no mesmo local (alguns só existem até meio do percurso), eu decidi tomar um caminho diferente na descida. Sem que nenhuma indicação houvesse, pelo menos que eu pudesse perceber, sobre o perigo de algum dos trilhos, decidi seguir o número 4, que descia até ao meio da montanha, e se juntava ao número 1 na zona de término do Elevador. Depois de alguns metros neste caminho percebi porque eram raras as pessoas nele. Nem protecções, nem caminho bem formado, só um caminho de terra e raízes na escarpa da montanha, com ravinas cobertas de árvores e matagal a descer centenas de metros a pique. Nessa altura fiquei com medo a sério. Estava sozinha. Não tinha dito a quase ninguém que pretendia subir o Monte, e o caminho estava quase deserto. Se acontecesse alguma coisa, dificilmente me encontrariam. Valeu-me um casal com um filho pequeno que seguia à minha frente, e um outro casal jovem que vinha mais atrás. Sentindo a presença deles senti-me segura, porque se acontecesse alguma coisa sempre tinha alguém que pudesse prestar algum auxílio. Apesar de seguirmos distantes uns dos outros, penso que estavamos todos presos à segurança de nos termos uns aos outros, e por isso mantivemos as distâncias, e fomos sempre tentando manter contacto visual. Depois desta aventura, em que caí de paraquedas sem reparar em nenhum aviso em relação ao perigo deste trilho (pelo menos, um aviso que eu pudesse perceber), retomei o caminho nº1 até ao final da descida, e segui para apanhar o comboio que me trouxe de volta ao coração de Tóquio, e depois a casa. Na lembrança ficou um dia cansativo mas bastante revigorante, que me deu energia para enfrentar o início do novo ano lectivo que esperava ansiosamente. Espero que gostem das fotografias!
Ao chegar a Takaosanguchi, encontrei logo um mapa em Inglês, em que eram mostrados os sete caminhos disponíveis para atingir o topo. Depois de dar uma olhadela nas lojinhas de souvenirs, e comprar uns doces típicos em forma de folha de Momiji (duros como tudo, juro que podia ter partido um dente! Mas muito saborosos, não obstante) decidi ir pelo caminho nº1. Foi uma boa opção. Este caminho é formado por uma estrada de paralelo estreita – que sobe consideravelmente, até ficarmos sem saber se estamos a andar ou a subir escadas – em que passam carros por vezes, mas que é muito segura. Havia pessoas a subir e a descer, e eu fiquei encantada com a maneira afável com que me cumprimentavam, alguns mesmo em Inglês.
A subida era mesma dura, e foi com bastante persistência que lá fui indo. A estimativa para este percurso era de cerca de 120 minutos, mas fazendo paragens a meio do percurso para comer qualquer coisa, tirar fotos e visitar o Santuário Shinto Yakuo-in, eu acabei por demorar quase três horas. A meio do percurso, que é o fim da linha quer para as cadeiras suspensas, quer para o elevador, encontra-se um pequeno complexo de restaurantes e lojinhas, onde eu aproveitei para comer um doce quente com feijão vermelho (azuki) em forma de folha de Momiji, e tirar algumas fotografias à paisagem. Logo depois, seguindo o percurso, está a reserva de macacos, que pode ser visitada mediante pagamento de entrada (500 ienes) mas que eu não visitei, e pouco depois a entrada para o santuário, assinalada pela característica porta de madeira da entrada.
O Santuário encontra-se espalhado nas encontas da montanha, e os seus caminhos são por vezes labirínticos, mas vale bem a pena visitá-lo. As muitas escadas são um desafio para as pernas cansadas de quem já subiu mais de 300 metros, mas o esplendor da construção é uma boa recompensa. Apesar do restante percurso estar bem assinalado, uma vez no templo as indicações para o topo do Takaosan escasseiam, e eu senti que estava um pouco perdida. Valeu-me a simpatia de várias pessoas que vinha a descer, e que ao verem o meu ar confuso a olhar para o mapa me encorajaram dizendo “Vá, só mais um esforço, faltam cerca de 10 minutos naquela direcção”. Fiquei-lhes extremamente agradecida, e renovei a minha visão da simpatia Japonesa que é facilmente perdida no rebuliço da capital.
Cheguei finalmente ao topo. Foi com algum cansaço que me pus a apreciar uma bela vista de montanhas cobertas de árvores ainda semi-despidas, porque apesar de Março estar já a chegar ao fim, naquela zona o frio ainda se fazia sentir, e por isso nem as cerejeiras haviam florido ainda. Foi pena o céu estar nublado, não consegui nem um vislumbre o Monte Fuji, apesar do mapa de montanhas que está disponível para podermos identificar cada uma na paisagem que vemos lá em cima. Mas mesmo sem o Monte Fuji, foi com um sentimento de dever cumprido que comecei a minha descida.
Uma vez que havia sete trilhos diferentes, ainda que nem todos comecem e acabem no mesmo local (alguns só existem até meio do percurso), eu decidi tomar um caminho diferente na descida. Sem que nenhuma indicação houvesse, pelo menos que eu pudesse perceber, sobre o perigo de algum dos trilhos, decidi seguir o número 4, que descia até ao meio da montanha, e se juntava ao número 1 na zona de término do Elevador. Depois de alguns metros neste caminho percebi porque eram raras as pessoas nele. Nem protecções, nem caminho bem formado, só um caminho de terra e raízes na escarpa da montanha, com ravinas cobertas de árvores e matagal a descer centenas de metros a pique. Nessa altura fiquei com medo a sério. Estava sozinha. Não tinha dito a quase ninguém que pretendia subir o Monte, e o caminho estava quase deserto. Se acontecesse alguma coisa, dificilmente me encontrariam. Valeu-me um casal com um filho pequeno que seguia à minha frente, e um outro casal jovem que vinha mais atrás. Sentindo a presença deles senti-me segura, porque se acontecesse alguma coisa sempre tinha alguém que pudesse prestar algum auxílio. Apesar de seguirmos distantes uns dos outros, penso que estavamos todos presos à segurança de nos termos uns aos outros, e por isso mantivemos as distâncias, e fomos sempre tentando manter contacto visual. Depois desta aventura, em que caí de paraquedas sem reparar em nenhum aviso em relação ao perigo deste trilho (pelo menos, um aviso que eu pudesse perceber), retomei o caminho nº1 até ao final da descida, e segui para apanhar o comboio que me trouxe de volta ao coração de Tóquio, e depois a casa. Na lembrança ficou um dia cansativo mas bastante revigorante, que me deu energia para enfrentar o início do novo ano lectivo que esperava ansiosamente. Espero que gostem das fotografias!
During Spring break at the University, after two months without classes, and with the new school year coming up, I decided to run away from the concrete filled Tokyo to a place much more nature filled. I followed the recommendation in my Tokyo guidebook and went to Mount Takao, nearly 600 meters high, in the outskirts of Tokyo – more or less 50 minutes by train from Shinjuku. I woke up early, packed my bag with water and my camera and there I left for Shinjuku. I left Shinjuku station from the west gate (nishiguchi) of the JR lines (the main train line in Japan) in Basement Floor 1 and went left, crossing Odakyu Shopping centre, to get to the direct entrance of Keio line (a private railway company). I needed some help from the staff, who was helpful, despite having trouble in speaking English, but was finally able to buy a return ticket for Takaosanguchi in the ticket machines (about 800 yen), which is the terminus and the exit that is closest to the hiking trails. To those who wish for that, there is also a 2000 yen ticket that includes 2 rides either in cable car or chair way, both stopping about half way through. Since I was determined to hike from the bottom, I bought only the normal return ticket for the train.
As soon as I left the Takaosanguchi station I could see a map in English showing all the 7 hiking trails. Soon after a little walk to the right of the station exit I found the souvenir shops near the entrance to the cable car and chair way, and bought myself some typical sweet cookies that are shaped as Momiji leaves (don’t be fooled by their delicate appearance, those things are hard as a rock, if you’re not careful you may end up losing a tooth. Nevertheless, they taste pretty good). Going up I decided to take trail number 1, and boy that was a good choice! This trail consists of a narrow paved road where sometimes a car or two pass you by, but that is very safe to hike, despite the lethal inclination (truly, your brain gets confused without knowing for sure if you’re hiking or climbing stairs!). The kindness of people going up and down that trail, who greeted me as I passed, sometimes in English, was truly surprising, since by that time, my impression on the Japanese people was limited to my daily commutes in Tokyo, and that was not kind at all.
It was a long and hard journey, and took some persistency to get to the top. According to the trail map this trail should take about 120 minutes up, however, after a lunch break at the shops half-way through, some picture taking and the visit to the Yakuo-in Shinto Shrine, it took me about 3 hours to reach the top. Half-way through there are several shops and little restaurants near the final stop of the cable car (the chair way stops about two minutes down and it has vending machines nearby), so I stopped there and had something to eat. Additionally I tasted another traditional sweet, again shaped as a Momiji leaf, but this time filled with red bean paste (azuki) and served hot. Once you get on the trail you find the monkey reservation that van be visited for 500 yen, which I chose to skip and a short while after that you come to great wooden door that signals the entrance to the shrine.
The shrine is spread across the mount and it becomes a kind of labyrinth sometimes, where I found there was not enough information on how to reach the top at this point. There are so many layers of the shrine connected by steep stairs that pose a real challenge to very tired legs, but I thought the beauty of that shrine was well worth the effort. Missing the information on how to go to the top at this point, for the first time since the start, I was rescued by other hikers who, upon realizing how lost I was, kindly said in English “Hang in there, it is just about ten more minutes in that direction”. God I was grateful to them! And once again in this trip my vision on the Japanese kindness was revised (it sure is something that in the crazy pace of the capital is hard to find – although not impossible!).
I reached the top! I was extremely tired by then but the amazing views from up there were breath taking. The whole mountains surrounding Mount Takao were covered in still bare trees. The warm weather of the end of March felt in Tokyo had still not reached there, and the Sakura (cherry-trees) had not blossomed yet. The clouds in the sky stopped me from seeing Mount Fuji, even though I tried to identify its direction in the mountain map that is available at the top observation post. After resting a bit, with a feeling of fulfilled duty, I started my descent.
There are 7 trails in total, but not all of them have the same length, some of them only include a part of the complete course length (only numbers 1 and 6, go all the way). Wanting to see as much as possible of this mount, I decided to take a short trail that would connect to number 1 at halfway. I decided to take trail number 4, which was surprisingly deserted. Soon after, I understood why. There weren’t any protections on the sides of this trail, that didn’t even had a well formed trail anyway. It was nothing but a small course determined by the mount’s side and the tree roots, and that looked to some pretty scary ravines covered in dense vegetation, going hundreds of meters down. God, I was so scared at this point. Imagine, I was completely alone on my hiking, and I had told no one in Tokyo that I would go hiking that day, and suddenly I found myself wondering what I could do if anything went wrong. Fortunately, I saw that a couple and a child were a little ahead of me, and that another couple was following me at some distance, and I was relieved, because at least if something happened I could scream and they could call someone. Having each other nearby was like a safety belt for all of us. We kept our distance from each other, but we also strived to keep visual contact. After this crazy adventure, in which I found myself without having seen any danger warning signs (that I could understand!), I resumed trail number 1 and went back down. I took the train back to Tokyo, and back home. I still remember that day, such a tiring day, but one that helped recharge batteries and face the new school term that I had been anxiously waiting for. I hope you enjoy the pictures.
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