Estou de volta, e com mais histórias para contar, espero que gostem desta!
Rumo a uma terra de Titãs. Assim foi a minha jornada para visitar o Monte Fuji, ou como dizem os Japoneses, Fujisan. Começou um sábado de Dezembro bem cedinho. Fiquei de me encontrar com a minha amiga MT em Shinjuku, no ponto de partida dos autocarros da Linha Keio. Depois de nos encontrarmos e de nos instalarmos no autocarro esperavam-nos cerca de três horas de viagem rumo à Prefeitura de Yamanashi (ou Yamanashiken, em Japonês). Estava tão cansada nessa altura que mal o autocarro arrancou não consegui evitar adormecer. Mas em viagens não consigo permanecer a dormir por muito tempo, e por isso fui acordando algumas vezes. Da primeira vez que acordei pensei que ainda estava a dormir. A paisagem rasgada por arranha-céus e florestas de cimento e betão tinha dado lugar a um zona montanhosa espectacular, em que nas encostas das montanhas se eriçavam árvores despidas, e levemente salpicadas de pontinhos brancos, flocos de neve. As montanhas retorcidas mais pareciam os membros gigantes de Titãs que ali tivessem adormecido, e cuja pele se tivesse tornado rocha sólida. O sol nascia e os raios de sol incidiam sobre os pequenos flocos de neve fazendo com que brilhassem nos ramos despidos das árvores, formando quase árvores de Natal naturalmente enfeitadas. Fui batalhando contra o sono, para poder apreciar a paisagem ainda mais, e ver os vales por onde corriam os rios, ondulando nos seus percursos entre as fendas da montanha e as casas e os campos, agora sem culturas, das planícies, mas nem sempre ganhei esta luta.
Era quase meio-dia quando chegámos ao nosso destino, esperava-nos lá a Y., uma amiga da MT que o ano passado a visitou em Portugal, com a irmã N., altura em que nos conhecemos e passámos alguns dias interessantes a passear em Lisboa. Fomos até casa dela, onde nos esperava a N., e juntas comemos uma comida tradicional Japonesa Takoyaki,que são bolas de massa com polvo por dentro, feitas num assador especial. Que delícia!!! Comemos que nos consolámos, e aproveitámos para pôr a conversa em dia. Depois do almoço, a Y. conduziu-nos, à MT e a mim, uma vez que a N. não nos pôde acompanhar, até Kawaguchiko,um dos cinco lagos que circunda o Mt. Fuji. Mais uma hora de caminho, pelo meio das montanhas magestosas e em direcção ao sol que felizmente brilhava no horizonte.
A primeira paragem foi junto do lago, na encosta de uma montanha. Aí apanhámos um teleférico até ao topo onde nos esperava algo de fazer cortar a respiração. Pelo caminho até lá aprendi uma história tradicional, a do KachiKachi, a história de um pequeno animal da floresta que é apanhado por um lenhador para ser comido, acaba por matar ou magoar (consoante a versão) a esposa dele, e sofre uma série de vinganças cruéis de um coelho amigo do lenhador, morrendo no final. Uma das mais famosas versões desta história, ainda que fugindo ao enredo inicial foi contada pelo famoso escritor Japonês Dazai, e em inglês o título deste conto é Crackling Mountain, que tive a oportunidade de ler. Chegámos ao topo, subimos uns pequenos degraus de pedra, e oh, no horizonte o cume imponente do Mt. Fuji. Tão perto, coberto de neve e com o sol a incidir sobre ele, é mesmo uma paisagem lindíssima. Ainda estivemos algum tempo no miradouro a tirar algumas fotos mas depois seguimos caminho.
A paragem seguinte foi uma gruta gelada, em que quase tivémos de rastejar para conseguir passar em algumas partes. Depois de uma das últimas explosões do Mt. Fuji – lembrem-se que é um vulcão ainda no activo! – a lava infiltrou-se em fendas na montanha e desceu até cavernas nas profundezas do solo, formando grutas com estalactites e estalagmites. Infelizmente tirar fotos era impossível lá dentro, dadas as condições de luz e humidade, mas posso assegurar que valeu a pena, apesar das temperaturas negativas e o caminho irregular, apertado e escorregadio (melhor do que a casa assombrada na Feira de Março, podem ter a certeza).
Demos por encerrado o passeio e fomos para o Hotel. Fujiya, uma cadeia de hotéis em redor do Mt. Fuji foi onde ficámos. O nosso quarto era um típico quarto Japonês, com chão em tatami, amplo, onde no meio se encontrava uma mesa baixa com quatro cadeiras sem pés, tradicionais. Da janela, uma espectacular vista para o Monte. O jantar foi Europeu, num restaurante Francês no hotel, parte do pacote da estadia, mas antes de seguirmos para o restaurante, houve tempo para experimentar uma coisa nova: onsen, os banhos públicos. É uma tradição enorme no Japão ir aos banhos públicos, em que existe uma parte interior com chuveiros baixos, uma grande piscina onde as pessoas entram depois de bem lavadas, e por vezes, como neste caso, uma piscina aquecida exterior a dar para um jardim fechado. Tradicionalmente as onsen eram naturais, eram termas, lagos naturais de água aquecida pela actividade vulcânica vinda do interior da terra, que eram normalmente divididas ao meio por uma parede feita de canas de bambu, separando a parte de banhos de homens e mulheres. No interior do Japão existem algumas mistas, mas nesses o uso do fato-de-banho é opcional, sim, porque numa onsen é normalmente proíbida qualquer peça de roupa. As meninas foram-me explicando passo-a-passo o que fazer. Começámos por entrar numa sala de vestir com alguns cestinhos de verga. Lá despimo-nos e depositámos todas as nossas coisas nesses cestinhos. A partir daqui só se pode entrar na zona de banhos com uma toalha estreita que se coloca (nas mulheres)ao comprido em frente do corpo, desde o peito até ao meio da coxa. Entramos e dirigimo-nos a um dos chuveiros com banquinho em frente. Aí usamos a toalha como esponja de banho, e lavamo-nos repetidamente. O hotel contava no interior com uma piscina e Jacuzzi, então fomos primeiro a este, e depois seguimos para a piscina de fora. A água nestas piscinas é muito mais quente do que o normal, por isso convém sair de dentro da piscina e sentar-se na beira por algum tempo, para que o corpo recupere a temperatura normal. Pensei que me ia sentir muito embarassada, mas depois de lá estar dentro, uma pessoa abstrai-se, e a experiência foi tão boa que repetimos depois do jantar! A experiência de onsen é vista como um ritual que aproxima as pessoas, e normalmente inclui partes de convívio com comida e bebida depois dos banhos. Foi uma boa experiência. Da segunda vez, como iriamos dormir depois, no final voltámos à sala inicial onde vestimos os nossos yukata (kimonos leves de dormir, ou para usar em dias quentes de Verão) providenciados pelo hotel.
Chegámos ao quarto, onde a mesa havia sido desviada e três futons (a cama tradicional, são dois acolchoados um por cima do outro) haviam sido dispostos lado-a-lado no chão. Fomos dormir, e de manhã eu acordei às 6 menos um quarto para fotografar o nascer do sol a incidir sobre o Mt. Fuji. Foi dificil mas valeu bem a pena. Quando as meninas acordaram começámos a arranjar-nos para ir tomar o pequeno-almoço, um requintado buffet self-service, para depois fazer o check-out do hotel. Houve ainda tempo para um passeio a pé nas redondezas, até ao Lago Kawaguchiko, onde tirámos mais algumas fotografias. Depois foi seguir viagem com uma paragem pelo caminho. Uma aldeia de trabalhos manuais! Fomos fazer esferas de vidro. Foi bastante difícil e quase não conseguíamos porque é dificil coordenar os movimentos com a temperatura e tudo mais, mas no final lá conseguimos fazer uns porta-chaves engraçados.
Almoçámos num restaurante típico lá perto, famoso por ter sido o primeiro a fazer um prato tradicional com udon, uma massa japonesa mais grossa e redonda que tagliatelle. Era uma espécie de sopa de legumes com massa, e estava bem boa, mas as taças eram enormes!!! Depois comprámos algumas lembranças e voltámos para a casa da Y., onde tomámos chá com os pais dela e conversámos, até serem horas do autocarro de volta a Tóquio. Eram quase 7 da noite quando eu e a MT chegámos a Shinjuku, mas foi um fim-de-semana inesquecível. Meninas, muito obrigada por esta experiência, em que não só aprendi imenso sobre a cultura Japonesa, como ainda tive oportunidade para treinar o meu Japonês, que permanece algo básico!
Uma aventura em terras de Titãs, realmente uma óptima experiência, espero que tenham gostado.
Era quase meio-dia quando chegámos ao nosso destino, esperava-nos lá a Y., uma amiga da MT que o ano passado a visitou em Portugal, com a irmã N., altura em que nos conhecemos e passámos alguns dias interessantes a passear em Lisboa. Fomos até casa dela, onde nos esperava a N., e juntas comemos uma comida tradicional Japonesa Takoyaki,que são bolas de massa com polvo por dentro, feitas num assador especial. Que delícia!!! Comemos que nos consolámos, e aproveitámos para pôr a conversa em dia. Depois do almoço, a Y. conduziu-nos, à MT e a mim, uma vez que a N. não nos pôde acompanhar, até Kawaguchiko,um dos cinco lagos que circunda o Mt. Fuji. Mais uma hora de caminho, pelo meio das montanhas magestosas e em direcção ao sol que felizmente brilhava no horizonte.
A primeira paragem foi junto do lago, na encosta de uma montanha. Aí apanhámos um teleférico até ao topo onde nos esperava algo de fazer cortar a respiração. Pelo caminho até lá aprendi uma história tradicional, a do KachiKachi, a história de um pequeno animal da floresta que é apanhado por um lenhador para ser comido, acaba por matar ou magoar (consoante a versão) a esposa dele, e sofre uma série de vinganças cruéis de um coelho amigo do lenhador, morrendo no final. Uma das mais famosas versões desta história, ainda que fugindo ao enredo inicial foi contada pelo famoso escritor Japonês Dazai, e em inglês o título deste conto é Crackling Mountain, que tive a oportunidade de ler. Chegámos ao topo, subimos uns pequenos degraus de pedra, e oh, no horizonte o cume imponente do Mt. Fuji. Tão perto, coberto de neve e com o sol a incidir sobre ele, é mesmo uma paisagem lindíssima. Ainda estivemos algum tempo no miradouro a tirar algumas fotos mas depois seguimos caminho.
A paragem seguinte foi uma gruta gelada, em que quase tivémos de rastejar para conseguir passar em algumas partes. Depois de uma das últimas explosões do Mt. Fuji – lembrem-se que é um vulcão ainda no activo! – a lava infiltrou-se em fendas na montanha e desceu até cavernas nas profundezas do solo, formando grutas com estalactites e estalagmites. Infelizmente tirar fotos era impossível lá dentro, dadas as condições de luz e humidade, mas posso assegurar que valeu a pena, apesar das temperaturas negativas e o caminho irregular, apertado e escorregadio (melhor do que a casa assombrada na Feira de Março, podem ter a certeza).
Demos por encerrado o passeio e fomos para o Hotel. Fujiya, uma cadeia de hotéis em redor do Mt. Fuji foi onde ficámos. O nosso quarto era um típico quarto Japonês, com chão em tatami, amplo, onde no meio se encontrava uma mesa baixa com quatro cadeiras sem pés, tradicionais. Da janela, uma espectacular vista para o Monte. O jantar foi Europeu, num restaurante Francês no hotel, parte do pacote da estadia, mas antes de seguirmos para o restaurante, houve tempo para experimentar uma coisa nova: onsen, os banhos públicos. É uma tradição enorme no Japão ir aos banhos públicos, em que existe uma parte interior com chuveiros baixos, uma grande piscina onde as pessoas entram depois de bem lavadas, e por vezes, como neste caso, uma piscina aquecida exterior a dar para um jardim fechado. Tradicionalmente as onsen eram naturais, eram termas, lagos naturais de água aquecida pela actividade vulcânica vinda do interior da terra, que eram normalmente divididas ao meio por uma parede feita de canas de bambu, separando a parte de banhos de homens e mulheres. No interior do Japão existem algumas mistas, mas nesses o uso do fato-de-banho é opcional, sim, porque numa onsen é normalmente proíbida qualquer peça de roupa. As meninas foram-me explicando passo-a-passo o que fazer. Começámos por entrar numa sala de vestir com alguns cestinhos de verga. Lá despimo-nos e depositámos todas as nossas coisas nesses cestinhos. A partir daqui só se pode entrar na zona de banhos com uma toalha estreita que se coloca (nas mulheres)ao comprido em frente do corpo, desde o peito até ao meio da coxa. Entramos e dirigimo-nos a um dos chuveiros com banquinho em frente. Aí usamos a toalha como esponja de banho, e lavamo-nos repetidamente. O hotel contava no interior com uma piscina e Jacuzzi, então fomos primeiro a este, e depois seguimos para a piscina de fora. A água nestas piscinas é muito mais quente do que o normal, por isso convém sair de dentro da piscina e sentar-se na beira por algum tempo, para que o corpo recupere a temperatura normal. Pensei que me ia sentir muito embarassada, mas depois de lá estar dentro, uma pessoa abstrai-se, e a experiência foi tão boa que repetimos depois do jantar! A experiência de onsen é vista como um ritual que aproxima as pessoas, e normalmente inclui partes de convívio com comida e bebida depois dos banhos. Foi uma boa experiência. Da segunda vez, como iriamos dormir depois, no final voltámos à sala inicial onde vestimos os nossos yukata (kimonos leves de dormir, ou para usar em dias quentes de Verão) providenciados pelo hotel.
Chegámos ao quarto, onde a mesa havia sido desviada e três futons (a cama tradicional, são dois acolchoados um por cima do outro) haviam sido dispostos lado-a-lado no chão. Fomos dormir, e de manhã eu acordei às 6 menos um quarto para fotografar o nascer do sol a incidir sobre o Mt. Fuji. Foi dificil mas valeu bem a pena. Quando as meninas acordaram começámos a arranjar-nos para ir tomar o pequeno-almoço, um requintado buffet self-service, para depois fazer o check-out do hotel. Houve ainda tempo para um passeio a pé nas redondezas, até ao Lago Kawaguchiko, onde tirámos mais algumas fotografias. Depois foi seguir viagem com uma paragem pelo caminho. Uma aldeia de trabalhos manuais! Fomos fazer esferas de vidro. Foi bastante difícil e quase não conseguíamos porque é dificil coordenar os movimentos com a temperatura e tudo mais, mas no final lá conseguimos fazer uns porta-chaves engraçados.
Almoçámos num restaurante típico lá perto, famoso por ter sido o primeiro a fazer um prato tradicional com udon, uma massa japonesa mais grossa e redonda que tagliatelle. Era uma espécie de sopa de legumes com massa, e estava bem boa, mas as taças eram enormes!!! Depois comprámos algumas lembranças e voltámos para a casa da Y., onde tomámos chá com os pais dela e conversámos, até serem horas do autocarro de volta a Tóquio. Eram quase 7 da noite quando eu e a MT chegámos a Shinjuku, mas foi um fim-de-semana inesquecível. Meninas, muito obrigada por esta experiência, em que não só aprendi imenso sobre a cultura Japonesa, como ainda tive oportunidade para treinar o meu Japonês, que permanece algo básico!
Uma aventura em terras de Titãs, realmente uma óptima experiência, espero que tenham gostado.
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